Os sucessos de Gilberto Gil são capazes de animar até os mais rabugentos. É só lembrar de Aquele Abraço, Realce ou Andar com Fé. Esse alto-astral contagia o novo espetáculo do Grupo Corpo, uma homenagem ao compositor baiano com trilha sonora inédita assinada pelo próprio. A estreia de Gil em Porto Alegre será neste sábado, com reapresentação no domingo, às 21h, no Teatro do Sesi. Como sempre, o programa inclui um segundo espetáculo que desta vez será Sete ou Oito Peças para um Ballet (1994), com música de Philip Glass e Uakti.
Com Gil, o Grupo Corpo faz sua primeira homenagem a um artista vivo – a lista conta com J.S. Bach e Ernesto Nazareth. Foi o diretor artístico Paulo Pederneiras quem convidou o músico a compor a trilha sonora. A partir daí, Rodrigo Pederneiras fez as coreografias:
– A ideia era criar uma síntese do que ele é e do que fez – explica o coreógrafo. – Logo que o Paulo conversou com o Gil, ele me mandou um recado: "Fala para o Rodrigo que eu vou dar muito trabalho pra ele!" E deu mesmo! Normalmente uma trilha sonora termina decolando. O Gil fez o contrário: começou forte e fez um final muito suave e leve. É difícil terminar uma peça assim.
Diversa, a trilha sonora composta por Gil combina música eletrônica e clássica, samba, jazz, rock, choro e candomblé. As religiões afrobrasileiras, abordadas no espetáculo anterior do grupo (Gira, de 2017), voltaram a ter destaque, especialmente a dança de Xangô, orixá de Gil.
– Como o espetáculo não conta uma história, eu precisava ter um chão. Então fui atrás de algo do candomblé porque o Gil tem um posto muito alto na hierarquia do candomblé (o músico ocupa uma das 12 cadeiras do ministério de Xangô no terreiro Ilê Axé Opó Afonjá). Ele é parte grande disso.
O público de Gil vai reconhecer fragmentos de canções famosas como Tempo Rei e Sítio do Pica-Pau Amarelo, além daquelas citadas no início deste texto. Um dos hits é a desculpa para os bailarinos do grupo caírem no samba pela primeira vez:
– Quando entra Aquele Abraço, pela primeira vez a gente faz um samba explícito. É difícil usar samba em dança, tem que ser o momento certo, justo – revela Pederneiras. – É uma peça que se passa muito no chão, sem grandes saltos, sem pas-de-deux. É bem diferente dos outros espetáculos do Grupo Corpo nesse sentido.
Para traduzir a "personalidade luminosa" de Gil, o diretor artístico Paulo Pederneiras estendeu um tapete amarelo de 20 metros de altura por 12 de largura, do palco ao teto. Vinte bailarinos vestidos de preto se revezam diante desse pano de fundo aparentemente infinito, como sombras diante do sol. Foi a primeira vez que o Grupo Corpo usou a cor amarela num cenário.
O diretor Paulo Pederneiras inovou também na iluminação ao recorrer a um equipamento normalmente usado em shows musicais chamado de "moving light".
– O Paulo programou cada refletor para seguir um bailarino, então cada um tem sempre uma luz acompanhando, independente da velocidade. Para fazer, foi uma loucura. A gente ensaiava, alugava o teatro, ficava lá por 15 horas e fazia só quatro minutos de luz – lembra o coreógrafo.
Som brasileiro
O espetáculo Gil dura 40 minutos e depois de um intervalo é seguido por Sete ou Oito Peças para um Balé. Segundo Pederneiras, a inspiração para essa montagem foram os jogos eletrônicos antigos, como pinball ou os videogames da década de 1990. A coreografia nasceu da trilha sonora original criada pelo compositor minimalista norte-americano Philip Glass em parceria com o grupo instrumental mineiro Uakti. A princípio não parece ter nada a ver com o universo de Gilberto Gil, mas Pederneiras aponta semelhanças:
– O Philip Glass compôs as músicas e entregou para o Marco Antônio Guimarães fazer o que ele quisesse, então ele colocou muita percussão, esticou e acelerou os andamentos. É um Philip Glass bem abrasileirado.
Grupo Corpo – Gil (2019) e Sete ou Oito Peças para um Ballet (1994)
- Sábado e domingo, às 21h.
- Teatro do Sesi (Av. Assis Brasil, 8.787).
- Classificação indicativa: livre.
- Duração: 140min (duas apresentações de 40 minutos e intervalo de 20 minutos).
- Ingressos: R$ 90 (mezanino), R$ 100 (plateia alta) e R$ 130 (plateia baixa).
- Pontos de venda: site blueticket.com.br (com taxas), tele-entrega em 3231-4142 (segunda à sexta, das 9h às 12h e das 14h às 18h), loja Made in Brazil, no Barra Shopping Sul (até 1º/11), e Teatro do Sesi, nos dias de evento, a partir de 19h.