No vocabulário da umbanda, “gira” é o ritual no qual se dança, normalmente em círculo, para receber as entidades no terreiro. A palavra virou título da mais nova coreografia do Grupo Corpo, que será apresentada em Porto Alegre pela primeira vez neste sábado (7) e domingo (8) no Teatro do Sesi.
O tema foi sugerido à companhia mineira pela banda Metá Metá, um dos destaques da cena independente nacional, que foi convidada para criar a trilha sonora. A pesquisa para Gira contou com frequentes visitas a terreiros de Belo Horizonte e envolveu conversas com pais de santo e com os frequentadores – além de muita observação, é claro.
Um dos fundadores do Corpo em 1975, ao lado de três irmãos, o coreógrafo Rodrigo Pederneiras conta que vem de formação familiar católica e não tinha qualquer conhecimento mais aprofundado sobre umbanda antes da imersão:
– Busquei esses movimentos para trazer para o trabalho, mas em nenhum momento me passou pela cabeça levar um terreiro para o palco. Acabou ficando claro, mesmo para quem não conhece, que estamos falando de umbanda.
Ao som da enérgica trilha do Metá Metá, as bailarinas e os bailarinos dançam com saias brancas, nus da cintura para cima e maquiados com tinta vermelha no pescoço. Entre as inspirações de Gira está a figura de Exu, entidade equivocadamente associada por alguns ao demônio, como explica Pederneiras:
– Pelo contrário, Exu é vida, movimento, festa. À medida que você vai convivendo, começa a sentir a grandeza dessa religião, que é tão brasileira e que também agrega outras.
Acompanhando Gira, o grupo apresenta, em programa duplo, a coreografia Bach (1996), que há 10 anos não era encenada. Também coreografado por Pederneiras, o trabalho tem trilha de Marco Antônio Guimarães (conhecido por sua atuação no grupo Uakti) a partir da obra de J.S. Bach.
Um dos grupos mais longevos do país, o Corpo foi afetado – assim como boa parte do setor cultural – pela crise econômica. A verba de um dos grandes patrocinadores, a Petrobras, foi significativamente reduzida, segundo Rodrigo. Os patrocínios cobrem apenas 50% dos custos de manutenção. O coreógrafo observa:
– O ano passado foi de total loucura, com atraso de salários para os sócios, mas os bailarinos não tiveram atraso algum. Tivemos que pedir empréstimo em um banco para pagar o empréstimo de outro banco. Agora, as coisas começaram a caminhar. Ainda estão turbulentas, mas muito menos do que estavam, por exemplo, nesse mesmo período do ano passado.
GRUPO CORPO – “GIRA” E “BACH”
Neste sábado (7/9), às 21h, e domingo (8/9), às 19h. Classificação: 14 anos.
Teatro do Sesi (Av. Assis Brasil, 8.787) fone (51) 3347-8787, em Porto Alegre.
Ingressos: R$ 70 (mezanino), R$ 90 (plateia alta) e R$ 100 (plateia baixa). Venda antecipada nas lojas Multisom (Rua das Andradas, 1.001; Bourbon Shopping Ipiranga; Praia de Belas Shopping; Shopping Iguatemi e BarraShoppingSul) e pelo site blueticket.com.br. À venda na bilheteria do teatro nos dias das sessões, duas horas antes do início.