Um dos maiores nomes do teatro moderno brasileiro, Bibi Ferreira (1922-2019) frequentou o palco durante praticamente toda a vida. A primeira vez foi involuntária, ainda bebê, substituindo de última hora uma boneca cênica que havia sido perdida. Em uma carreira que se confunde com a própria história da dramaturgia nacional, atuou até o final da vida: a aposentadoria foi anunciada em setembro de 2018, meses antes de morrer, em fevereiro último, aos 96 anos.
A memória de seus últimos espetáculos ainda pulsa no coração dos fãs porto-alegrenses, que terão um motivo para reviver aquela emoção com o espetáculo Bibi, Uma Vida em Musical. A montagem, que já passou por Rio e São Paulo, chega pela primeira vez a Porto Alegre neste fim de semana, com sessões desta sexta (27) a domingo (29) no Theatro São Pedro.
Escrita por Artur Xexéo e Luanna Guimarães, e dirigida por Tadeu Aguiar, a peça repassa os principais momentos da vida e da carreira de Bibi, lembrando célebres musicais, como Gota d'Água; My Fair Lady; Alô, Dolly e Piaf — A Vida de uma Estrela da Canção. Durante as 2h45min de ação, o elenco de 17 atores interpreta 33 canções ao vivo (sobre base instrumental gravada), cinco delas criadas para o espetáculo pela compositora Thereza Tinoco. Tadeu Aguar, diretor do espetáculo, resume:
— O que tornou Bibi uma grande mulher do teatro foi a sua exigência. Não fazia nada malfeito, nada pela metade. E também o conhecimento que adquiriu. Estudou música, sabia dançar, dominava todas as áreas do fazer teatral, e isso a tornou uma artista excepcional e uma diretora incrível.
Encontro
Quem encarna Bibi em cena, da juventude à velhice, é a atriz paulistana Amanda Acosta, 40 anos, que representou, em My Fair Lady (2006), o mesmo papel que a estrela havia imortalizado na primeira montagem brasileira do musical. Foi naquela ocasião que a futura Bibi da ficção encontrou a de verdade pela primeira vez.
— Ela me disse: "Isso é muito trabalho, minha filha!". E é mesmo. Nossa profissão é muito trabalho, estudo, doação. Ela era grandiosa, se dedicava, conhecia muito o ser humano e sabia como acessar a alma – elogia Amanda, que integrou o Trem da Alegria de 1988 a 1992.
Mas emoção mesmo veio quando a grande dama assistiu ao musical sobre a própria vida. Sua intérprete é quem conta:
— Bibi foi na penúltima semana da temporada no Rio, em uma noite histórica. Quando comecei a cantar La Vie en Rose, ela começou a cantar junto. Me direcionei ao lugar onde ela estava, e a plateia inteira aplaudia. Foi um dueto relâmpago, mas muito intenso.
Bibi, Uma Vida em Musical enfoca os momentos de transição da carreira de Bibi: a primeira cena como profissional, aos 19 anos; a criação de sua companhia de teatro, os grandes musicais, os espetáculos sobre Edith Piaf e Amália Rodrigues e o primeiro show em Nova York, em 2013, aos 90 anos. Por meio da arte, mostra também a história do Brasil, como a ditadura militar, época do musical Gota d'Água. Para Amanda, é uma situação "infelizmente, muito atual":
— A Bibi passou por isso, eles todos passaram. O que falamos na peça é o que estamos passando hoje. Querem colocar os artistas como vilões para tirar o foco deles. Mas um país sem cultura é um país sem identidade.
BIBI, UMA VIDA EM MUSICAL
Nesta sexta (27) e sábado (28), às 21h, e domingo (29), às 18h.
Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/nº), em Porto Alegre.
Duração: 165 minutos. Recomendação etária: 10 anos.
Ingressos de R$ 50 a R$ 150, à venda no site teatrosaopedro.com.br (com taxa) e no local. Desconto de 50% para sócios do Clube do Assinante.