Por Luís Francisco Wasilewski, pesquisador teatral e doutor em Literatura Brasileira pela USP
Se hoje o gênero teatro musical tornou-se comum no nosso palco, devemos isso, em grande parte, a Bibi Ferreira. Ela atuou nas primeiras grandes montagens de clássicos do gênero como My Fair Lady, ao lado de Paulo Autran e Jayme Costa, em 1962, e Alô, Dolly, em 1966. Porém, não foram apenas as encenações de musicais estrangeiros que celebrizaram essa atriz. Quando foi casada com o dramaturgo Paulo Pontes, Bibi protagonizou Gota d’Água, escrito por Pontes e Chico Buarque. O texto que, diga-se de passagem, consta em grande parte das leituras obrigatórias dos concursos vestibulares, trouxe o mito de Medeia para o morro carioca, através da saga da lavadeira Joana. A encenação de Gota d’Água também foi marcante por retratar uma realidade miserável que acontecia em um Brasil ainda vivendo sob o regime da ditadura militar.
O maior sucesso de sua carreira foi Piaf, de Pan Gems, que foi traduzido por Millôr Fernandes e dirigido por Flávio Rangel. Foi a montagem que reinaugurou o Theatro São Pedro de Porto Alegre, que, no dia 27 de junho de 1984, abriu suas portas, sob a administração de Eva Sopher. Nos dez anos que comemoravam a histórica data, ou seja, em junho de 1994, Bibi voltou ao palco da Praça da Matriz para cantar o repertório de Piaf, acompanhada pela Orquestra de Câmara do Theatro São Pedro.
Se hoje tanto se debate a questão dos direitos LGBTQ e a criminalização da homofobia, é importante lembrar também que Bibi teve a ousadia de dirigir um show de travestis, estrelado por Rogéria e Jane de Castro. Faço menção a Gay Fantasy, que estreou no Teatro Alaska em 1982. Anos depois, Bibi assinou a adaptação musical de Roque Santeiro, de Dias Gomes, e colocou Rogéria no elenco interpretando uma personagem feminina.
Bibi atuou praticamente até o fim de sua vida. Nos últimos anos esteve revisitando em seus shows a obra de Frank Sinatra e, constantemente, voltava a interpretar as canções de Piaf. Sua morte deixa um enorme vazio no teatro brasileiro.