Por Luiz Paulo Vasconcellos, diretor e professor de teatro
Se Bibi Ferreira não tivesse conquistado a fama, o prestígio, o reconhecimento e a glória pelo seu trabalho como cantora e atriz, ela com certeza seria mencionada no Guinness Book, o livro dos recordes, como a artista com a mais longa carreira em toda a história do teatro em todos os tempos. Afinal, ela entrou no palco pela primeira vez aos vinte e quatro dias de vida substituindo uma boneca que havia sido roubada da produção do espetáculo na véspera. A peça era Manhãs de Sol, de Oduvaldo Vianna. Em 2017, Bibi encerrou sua carreira profissional com o espetáculo Bibi – Por Toda a Minha Vida. Em resumo: foram noventa e cinco anos atuando como boneca, bailarina, atriz, cantora, diretora e compositora nos teatros do Brasil e de Portugal.
Filha do ator Procópio Ferreira e da bailarina Aida Izquierdo, Abigail Izquierdo Ferreira participou do Corpo de Baile do Teatro Municipal do Rio de Janeiro até estrear profissionalmente na companhia de seu pai em 1941. Em 44 funda sua própria companhia, que teve no elenco alguns dos nomes mais destacados do teatro brasileiro, como Cacilda Becker, Maria Della Costa e Henriette Morineau.
Uma vez – não me lembro exatamente quando – a Rádio da Universidade convidou a mim e ao cineasta Sérgio Silva para uma entrevista com ela num programa ao vivo e o que nos fascinou foi a agilidade mental, a verve, a inteligência, a rapidez de raciocínio com que ela respondia a todas as nossas perguntas. Ela já tinha bastante idade – talvez uns oitenta anos - e se lembrava de absolutamente tudo sobre todos os assuntos nos mínimos detalhes. Foi uma experiência inesquecível para nós.
Finalmente, para quem queira vê-la ao vivo e a cores, eu sugiro a entrevista que ela fez com Jô Soares em que ela diz entre outras coisas: “Eu dediquei minha vida de uma maneira muito séria. Eu levo a minha carreira de forma muito séria, não brinco em serviço. E quando me perguntam a quem devo o meu nome, eu digo, meu nome é cre-di-bi-li-da-de. Eu venho fazendo uma carreira, me entregando sempre à arte de uma maneira austera. Porque eu levo a sério qualquer entrevista, qualquer peça em que atuo”. Esta era Bibi Ferreira. É só ir lá no YouTube. Vale a pena.