Cantora, ativista, mulher, negra e inspiradora, Elza Soares renasceu diversas vezes em seus quase 90 anos de idade. Nessa jornada, soube se reinventar como poucos: sua música e sua postura são mais atuais do que nunca, o que a tornou uma artista, acima de tudo, necessária.
Para dar conta dessa multiplicidade, o musical Elza coloca em cena não uma, mas sete intérpretes negras para representar a artista, cada uma com sua história de vida, espelhando a da homenageada. Um dos principais destaques do 14º Festival Palco Giratório Sesc/POA, a montagem carioca poderá ser vista pelo público porto-alegrense nesta sexta (10), às 21h, e no sábado (11), às 17h e às 21h, no Theatro São Pedro.
— Todo mundo que fala da Elza pensa em tragédia, mas nós ressaltamos a superação. É uma mulher que avança, se moderniza o tempo todo. Quisemos falar dessa Elza que tem uma fala muito eficiente em relação à mulher e contra a violência, o racismo e o preconceito — explica a encenadora Duda Maia, que também dirige outro espetáculo no festival, o infanto-juvenil Contos Partidos de Amor, inspirado na obra de Machado de Assis, com sessões nesta quinta (9) e sexta (10).
Duda acrescenta que as sete atrizes-cantoras têm uma trajetória de atuação como artistas e ativistas, o que lhes confere propriedade ao falar sobre a vivência de uma mulher negra no Brasil. Em cena, a atriz convidada Larissa Luz compartilha o papel de Elza com seis selecionadas em testes: Janamô, Júlia Tizumba, Késia Estácio, Khrystal, Laís Lacorte e Verônica Bonfim. Larissa, que assina a direção musical com Pedro Luís e Antônia Adnet, conta que, durante o processo de criação do espetáculo, participou de encontros com Elza Soares, que pediu para que sua história não fosse encenada em tom de tristeza, mas de vitória:
— Elza já estava praticando o feminismo negro há muitos anos apenas por existir. Ela vai e conquista. Diz sim para muitas mulheres artistas, cantoras, ativistas, escritoras. É uma artista atemporal, que se conecta com o presente, com um público jovem.
Repertório de músicas antigas e recentes
Homenagem à mulher brasileira, segundo a diretora, o musical não tem homens em cena: tanto o elenco quanto a banda contam apenas com mulheres. A seleção de canções, com arranjos de Letieres Leite (da Orkestra Rumpilezz), combina sucessos do passado de Elza, como Lama (que ela cantou como caloura, em 1953, no programa de rádio de Ary Barroso) e Se Acaso Você Chegasse (fez uma célebre gravação do samba de Lupicínio Rodrigues), e outros da fase mais recente, a partir dos anos 2000, como A Carne (“A carne mais barata do mercado é a carne negra”, diz a letra) e Maria da Vila Matilde (“Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim”), esta acompanhada nos shows de Elza por uma convocação para as mulheres denunciarem seus agressores.
O repertório foi selecionado para estar a serviço da dramaturgia de Vinícius Calderoni, que repassa episódios importantes da vida de Elza sem o compromisso de uma biografia tradicional em ordem cronológica. Aparecem em cena a turbulenta relação de amor com Garrincha; o convite para gravar Língua, com Caetano Veloso, que a levou de volta aos holofotes; e a queda do palco durante uma apresentação no Rio em 1999.
— Em todos os episódios, tem sempre uma volta por cima, um reviver, um querer estar no palco e cantar — conclui Duda. — Tem uma música em que ela diz: “Eu quero cantar até o fim, me deixem cantar até o fim”.
ELZA
Sexta (10), às 21h, e sábado, às 17h e às 21h.
Duração: 140 minutos. Classificação: 14 anos.
Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/nº), fone (51) 3227-5100, em Porto Alegre.
Ingressos: R$ 20 (cartão Sesc/Senac, estudantes, classe artística e maiores de 60 anos) e R$ 40 (público geral). À venda no site sesc-rs.com.br/ingressos, no Sesc Centro (Av. Alberto Bins, 665) e, havendo disponibilidade, no São Pedro, uma hora antes de cada sessão.