Na última semana de sua já tradicional temporada no Theatro São Pedro, Jair Kobe confirma o sucesso do Guri de Uruguaiana, personagem que virou espetáculo e livro, tem presença forte nas redes sociais e até empresta seu rosto para uma marca de erva-mate. Em Guri de Uruguaiana 2 – A Missão, o personagem se torna um agente secreto do MTG para difundir a cultura gaúcha. A produção também marca o retorno de outra antiga criação de Kobe, que ganha uma cena: o mágico Sergay Baitabichowisky.
Nesta entrevista, concedida em sua residência, em Porto Alegre, o humorista fala sobre a arte de fazer rir nos tempos atuais. Afirma que faz um humor politicamente correto, mas critica o policiamento sobre as piadas, especialmente nas redes sociais, que considera ter ficado “chato”. Leia a entrevista a seguir:
Te sentes pressionado pelo politicamente correto?
Sinto. O policiamento do politicamente correto chega a estar chato. Com a voz que todos têm nas redes sociais, todo mundo tem opinião sobre tudo. As pessoas têm liberdade de se expressar sobre qualquer coisa que tu faças. Isso é bom, mas ao mesmo tempo vira uma coisa chata. Não tenho muito problema, porque a essência do personagem é politicamente correta. É uma opção minha. O personagem tem essa característica, então não caberia ver o Guri de Uruguaiana falando palavrão ou falando alguma coisa preconceituosa porque não combina com o perfil do personagem.
Não fazes piadas relacionando o gaúcho com homossexual de forma estereotipada. Como foi essa opção?
Nem entro nessas questões de gênero e número, questões políticas ou clubísticas. Tudo isso é paixão, então temos que ter cuidado. Agora, do jeito que está a situação desse policiamento, nós que trabalhamos com redes sociais temos que estar muito atentos. Mas não é só nas redes sociais. Às vezes, em um show corporativo, tu podes brincar um pouco mais, dependendo do cliente. Às vezes o cliente pede que tu faças uma brincadeira, mas mesmo assim tenho que ter cuidado. Alguém pode estar gravando e te colocar nas redes sociais.
Neste segundo espetáculo do Guri de Uruguaiana, trazes de volta um personagem do início da carreira, o mágico Sergay Baitabichowisky. Houve alguma reação de desgosto pela brincadeira com o nome dele?
Não. Porque o personagem não tem essa característica, é só o nome. Sergei é um nome russo muito comum, que nem José para nós. Essa brincadeira surgiu em 2001 e nunca deu problema. Muita gente me cobrava a volta do Sergay, que é um personagem muito engraçado. As crianças adoram, os adultos também. É uma brincadeira boba (risos) e lúdica. Ele não fica desmunhecando. Faz umas mágicas bem simples, que chegam a ser ridículas. As pessoas riem do ridículo. Mas ele faz tudo com uma imponência, com uma música, um astral que parece que está fazendo uma baita mágica. O fato de colocar um nome engraçado já gera uma mídia, uma expectativa. O pessoal ri do nome.
O Guri de Uruguaiana já foi criticado pelos tradicionalistas?
Muita gente pergunta se o MTG (Movimento Tradicionalista Gaúcho) nunca me cobrou pelas posturas do Guri, mas bem pelo contrário. O Guri leva a cultura gaúcha além do ambiente do CTG (Centro de Tradição Gaúcha), além do ambiente nativista. Por conta do humor, atinjo outras pessoas, atinjo as crianças. Posso levar esse personagem para o Brasil todo. O Guri brinca com as coisas do Rio Grande, mas ele ri de si mesmo. É muito comum, principalmente no stand-up, um gordo fazer piada de gordo ou um cego fazer piada de cego. Mas se eu fizer piada de gordo e cego, aí fica complicado. Então, não gostamos que alguém venha fazer piada de gaúcho, mas um gaúcho pode fazer. O autobullying é um formato para que tu possas brincar sobre esses temas. Falo da mulher do Guri, a Silvia Helena, que tem problema de gordura localizada – localizada no corpo todo.
Já criticaram as piadas sobre o corpo da Silvia Helena?
Sou aberto para emprestar o personagem para causas interessantes, independentemente do partido ou da origem do negócio. Fui convidado para a inauguração do projeto He For She (movimento da ONU Mulheres pela igualdade de gênero) na Assembleia (Legislativa do RS). Estava de viagem e cheguei meio de paraquedas, já fazendo uma piada sobre a Silvia Helena. Uma turma ria e outra metade fazia cara amarrada, porque estavam lá justamente para discutir os direitos das mulheres. Não me dei por conta e acabou dando esse desconforto. No Dia Internacional da Mulher, fizemos um post dizendo que a mulher é a melhor churrasqueira do mundo porque, além do churrasco, faz a maionese. Foi um problema para mim. Qualquer coisa pode dar um entendimento equivocado.
GURI DE URUGUAIANA 2 – A MISSÃO
Desta quarta (11/4) a sábado (14/4), às 21h, e domingo (15/4), às 18h.
Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/n°), fone (51) 3227-5100.
Ingressos: R$ 30 (galerias), R$ 50 (camarote lateral), R$ 70 (camarote central) e R$ 90 (plateia e cadeira extra). À venda pelo site vendas.teatrosaopedro.com.br e na bilheteria do teatro, de hoje a sexta, das 13h até o horário de início do espetáculo, e sábado e domingo, das 15h até o horário de início do espetáculo.