Segundo a atriz, foi uma feliz coincidência. Fato é que – em pleno país que é vice-líder mundial em cirurgias plásticas – o tema da obsessão pela beleza e eterna juventude mais uma vez encontra Drica Moraes. A atriz é uma das quatro protagonistas de Lifting – Uma Comédia Cirúrgica, peça do Porto Alegre Em Cena que será apresentada neste final de semana no Theatro São Pedro e acaba de ganhar sessão extra no domingo.
Embora no palco ela seja abordada de forma mais escrachada, a discussão sobre o que Drica chama de “ditadura da beleza” apareceu este ano no currículo da atriz em A Fórmula, seriado da Globo em que ela interpreta uma cientista às voltas com um triângulo amoroso inusitado: o seu chefe, vivido pelo ator Fábio Assunção, se apaixona simultaneamente pelo personagem de Drica, um amor da adolescência, e por uma versão mais jovem dela mesma (vivida por Luisa Arraes), fruto de uma experiência de laboratório em busca da eterna juventude.
Trata-se, segundo a atriz, de uma das grandes questões femininas atuais.
– A peça também trata disso, de forma ainda mais debochada. Não é à toa, porque a ditadura da beleza é uma questão muito presente. Poxa, a mulher tem o direito de envelhecer, de não fazer plástica. E de fazer plástica, se quiser. Ela tem o direito a tudo, mas nunca como imposição. E a sociedade, em relação à beleza, vive uma ditadura horrorosa. Sobretudo em relação às mulheres – opina a atriz.
Em Lifting, Drica e as colegas de elenco – as atrizes Ângela Rebello, Lorena da Silva e Luísa Pitta – apostam no rir para não chorar. O texto ligeiro do espanhol Felix Sabroso é transformado em 12 esquetes com múltiplas personagens entremeadas por música, em um formato “meio cabaré, meio teatro de revista”.
– Cada uma de nós quatro interpreta quatro personagens. Faço, por exemplo, a advogada de uma socialite denunciada por desvios de dinheiro público para implantação de botox e silicone. Também interpreto uma mãe em disputa com a filha. Ela pede um silicone, mas tem a condição de que passe na faculdade – adianta Drica.
Segundo a atriz, Lifting é legítima representante do que ela chama de “teatro de guerrilha”. A peça foi idealizada pelas quatro amigas ao se reencontrarem em uma plateia, no Rio de Janeiro. Conversa vai, conversa vem, todas compartilhavam a vontade de voltar a fazer comédias. Drica, por exemplo, vinha de trabalhos pesados e intensos em televisão, com a novela Verdades Secretas e o seriado Justiça. Sem contar os problemas de saúde – a atriz realizou, em 2010, um transplante de medula após diagnóstico de leucemia mieloide aguda. Um trabalho leve e divertido, portanto, faria muito bem. Ângela apresentou o texto de Sabroso às amigas em meio ao processo de tradução, ainda em bom portunhol.
– Já morremos de rir na primeira leitura – conta Drica.
Peça foi viabilizada pelas próprias atrizes
Sem patrocínio, a peça foi viabilizada pelas próprias atrizes com a ajuda de amigos. O melhor da iniciativa foi poder levar um trabalho de primeiríssima – conta com assinaturas de profissionais renomados do teatro nacional, como Marcelo Olinto (figurino) e Maneco Quinderé (iluminação) – a palcos de cidades menores, como Bangu, no interior do Rio, onde a peça fez sua estreia. Graças ao convite do Em Cena, o Theatro São Pedro será o primeiro palco tradicional a receber a montagem. O espaço é também cenário de algumas das melhores lembranças de Drica sobre Porto Alegre:
– O São Pedro e dona Eva Sopher são dois monumentos históricos nacionais. Dona Eva, sem nenhum botox, sem nenhum silicone, é uma das mulheres mais importantes do planeta. Está aí a prova de que uma aparência artificial não leva ninguém a lugar nenhum. Linda! Linda e uma das mulheres mais interessantes que eu conheci na minha vida. Acho que estar no Theatro São Pedro é a eterna fonte da juventude.
Lifting – Uma Comédia Cirúrgica
Amanhã, às 21h, e domingo, às 18h e às 20h30min.
Theatro São Pedro (Pça. Mal. Deodoro, s/nº)
Ingressos de R$ 40 a R$ 80
Mais informações no site do festival portoalegreemcena.com
