A permanência no tempo é o que caracteriza um clássico, mas o contexto ajuda a torná-lo sempre presente. É o caso do mito de Antígona, que foi apropriado na América Latina, durante o jugo das ditaduras do século 20, como um símbolo da luta contra os desmandos do poder. Afinal, a personagem desafia a ordem das coisas ao decidir enterrar o corpo do irmão Polinice contra a decisão do rei Creonte, que considera Polinice um traidor por ter atacado Tebas.
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Essa é apenas uma das inúmeras leituras possíveis da tragédia que se tornou célebre na versão de Sófocles, um dos três grandes autores teatrais da Grécia Antiga, ao lado de Ésquilo e Eurípides. Respeitando o texto clássico, a montagem de Antígona que a atriz Andrea Beltrão apresenta nesta quinta (21/9) e sexta (22/9), às 21h, no Theatro São Pedro, dentro do 24º Porto Alegre Em Cena, foge do usual.
Ela e o diretor Amir Haddad – que fez história no teatro brasileiro, do Teatro Oficina ao grupo Tá na Rua – transformaram a peça em um solo a partir da tradução de Millôr Fernandes. Andrea recebe o público na entrada do teatro e, ao subir ao palco, começa o espetáculo com uma conversa, antes de partir para os personagens. O cenário exibe uma árvore genealógica com os nomes dos mitos gregos.
Em entrevista a Zero Hora, a atriz conta que ela e o diretor não tiveram a intenção de traçar qualquer paralelo com o tempo presente, mas isso ocorreu naturalmente. Para ela, “é uma oportunidade imensa poder, por meio dos gregos, falar, discutir e conversar sobre os dilemas humanos que nos assombram até hoje”:
– Nosso desejo de fazer essa peça foi por pura identificação com o que é dito no texto e por profunda admiração pela Antígona, uma heroína do amor. Eu tinha uma vontade muito antiga de fazer essa peça. Infelizmente, tudo que é dito no texto se aplica ainda hoje, depois de 2.500 anos, aos dilemas que estamos enfrentando.
Estreada em 2016, Antígona celebra os 40 anos de palco da atriz, que inicou a carreira em 1976 no grupo carioca O Tablado. O novo espetáculo é sua primeira montagem solo. Foi a vontade de fazer uma peça sozinha que orientou as demais decisões sobre o trabalho:
– Não procuramos uma estética, nem mesmo um estilo. Fizemos assim para conseguir levar o texto a qualquer plateia. Para que ele seja entendido. E para que reverbere, provoque reflexão. Não sei se conseguimos, mas estamos na estrada, no caminho, tentando sempre um encontro verdadeiro com o público. Uma peça é um encontro entre quem está no palco e quem está na plateia.
Sem entrar em detalhes, Andrea adianta que fez “alguns filmes” e aguarda “dois projetos muito legais na televisão”, mas espera que Antígona ainda a acompanhe durante muito tempo:
– Graças à resistência de todos, o teatro se mantém vivo. Na minha opinião, jamais morrerá.
Muitas vezes, as condições não são as melhores, mas acho que é preciso fazer teatro sempre. Do jeito que for possível.
ANTÍGONA
Nesta quinta (21/9) e sexta (22/9), às 21h. Duração: 60 minutos.
Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/nº), em Porto Alegre.
Ingressos: R$ 80. Desconto de 50% para sócios do Clube do Assinante.
Ponto de venda sem taxa: bilheteria oficial do festival (Av. Erico Verissimo, 307, nesta quinta, das 10h às 14h e das 15h às 19h).
Ponto de venda com taxa: site bit.ly/24poaemcena.
No dia de cada sessão, ingressos apenas na bilheteria do teatro, das 13h até a hora do início.