Desde 2013, o Porto Alegre Em Cena, um dos principais festivais de artes cênicas do Brasil, vem apresentando um orçamento abaixo do que havia praticado até 2012. Mas nenhum ano foi tão dramático quanto este 2016, quando o evento será realizado com R$ 2,13 milhões – nos três anos anteriores, o custo oscilou entre R$ 2,6 milhões e R$ 3 milhões. Viabilizado por meio de leis de incentivo à cultura federal e estadual, o Em Cena que começa hoje sofreu com um atraso na tramitação de seu projeto no Ministério da Cultura, órgão que chegou a ser extinto (depois, recriado) e teve sua equipe trocada quando Michel Temer assumiu como presidente interino. Tudo isso sem contar a crise econômica, que afetou a área cultural.
– Foi o ano mais difícil da história do festival – atesta o coordenador-geral Luciano Alabarse. – Só teve o final feliz de ser realizado este ano por causa da competência e da experiência que nossa equipe adquiriu ao longo do tempo.
Alabarse relata que conseguiu o carimbo da Lei Rouanet e da Lei de Incentivo à Cultura do RS (LIC-RS) "aos 45 minutos do segundo tempo". Mas contou com a parceria dos patrocinadores, que repetiram o apoio do ano passado.
O resultado é uma programação focada na produção brasileira. Contará com participações de importantes companhias, como Grupo Galpão, Armazém e Sobrevento (que celebra 30 anos de atividade), e estrelas da TV e dos palcos a exemplo de Deborah Bloch, Mariana Lima (ambas em Os realistas), Matheus Nachtergaele (Processo de conscerto do desejo), Gero Camilo (Caminham nus empoeirados) e Dan Stulbach (Morte acidental de um anarquista).
Serão 35 espetáculos de teatro, dança e música (O homem e a mancha entrou no lugar de A reunificação das duas Coreias), que ocuparão diferentes espaços da cidade. Até o fechamento desta edição, havia ingressos para todos.
A madrinha deste ano é a professora e diretora Inês Marocco, conhecida por seu trabalho com o Grupo Cerco (RS). Na série de livros Gaúchos Em Cena, o ator, diretor e professor Luiz Paulo Vasconcellos é biografado por Zeca Kiechaloski.
Novo evento virá em outubro
Com duração usual de três semanas, o Em Cena será segmentado nesta 23ª edição. A programação principal será de hoje até o dia 26, com ingressos de R$ 20 a R$ 80. Haverá um novo evento, de 10 a 16 de outubro, chamado Inclusão Em Cena, com atrações locais em diferentes regiões da Capital, com entrada franca. O Inclusão concentrará também a parte voltada ao público infantojuvenil, mas a programação ainda não foi divulgada. A criação de um novo projeto está prevista na instrução normativa da LIC-RS para este ano como condição para que eventos continuados solicitem um valor adicional de renúncia fiscal.
Nesta edição, as atividades formativas do Em Cena chegam com mais força. Segundo Alabarse, as ações ajudam a compensar a reduzida programação internacional:
– Neste ano, talvez pela ausência de alguns chamarizes, essa parte está atraindo atenção.
Espetáculo de Cida Moreira abre a programação
Na abertura do 23º Porto Alegre Em Cena, Cida Moreira vai cantar os diversos aspectos do Brasil no show Soledade, que traz o repertório do disco homônimo lançado no ano passado.
A apresentação será nesta terça-feira, às 21h, no Theatro São Pedro, com ingressos a R$ 80 e possibilidades de desconto de 50%. Cida estará acompanhada, no palco, por Omar Campos (violões, viola, guitarra e direção musical), Izaías Amorim (contrabaixo acústico e elétrico), Yuri Salvagnini (acordeom e piano) e Adriano Busko (percussão).
No álbum, Cida relê canções de artistas consagrados, como Milton Nascimento (Um gosto de sol, com Ronaldo Bastos), Chico Buarque (Construção) e Taiguara (Outra cena), e jovens, como Thiago Pethit e Helio Flanders (Forasteiro).
– Soledade é um CD conceitual, que se tornou um espetáculo idem, com canções que refletem, no meu entendimento, minhas sensações sobre o Brasil. São canções de cunho político, social e poético. Não tenho nenhuma preocupação em dizer que são releituras. São novas canções, pois todas agora pertencem a mim, à minha voz e à minha inteligência – observa.
Sobre o fato de cantar o Brasil em tempos de crise, Cida afirma:
– O show Soledade foi escolhido para o Em Cena justamente por isso. O Brasil vive uma crise geral, de tudo. Nós, os artistas também. O Porto Alegre Em Cena também está sendo feito com muitas dificuldades.
Entre as faixas do disco com presença no show, está Feito um picolé ao sol, de Nico Nicolaiewsky, como adianta a cantora:
– Canto Feito um picolé ao sol desde 1987. Não está no show por seu compositor ser gaúcho, está no show por representar uma época, um tipo de composição. Falar do Nico como compositor é chover no molhado.