Após passar 15 anos dedicado à carreira de apresentador, longe da atuação, Rodrigo Faro voltou aos sets de filmagem para interpretar Silvio Santos no longa-metragem Silvio, que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (12).
O filme aborda pontos cruciais da biografia do fundador do SBT, mas tem como eixo narrativo o sequestro sofrido por ele em 2001, quando foi feito refém pelo jovem Fernando Dutra Pinto, interpretado por Johnnas Oliva. A abordagem exigiu que Rodrigo Faro interpretasse Silvio Santos em um momento de tensão, medo e fragilidade, diferente da versão efusiva dele que costumava ser vista no palco.
O desafio foi grande, segundo Faro, mas o desejo de prestar uma homenagem ao ídolo falou mais alto. Ele diz ter ficado incrédulo com a notícia da morte de Silvio Santos, em 17 de agosto, faltando poucos dias para a pré-estreia do filme.
— Eu não acreditei — lembra Faro. — Quando me falaram (da morte de Silvio Santos), eu fiquei sem reação, não sabia o que fazer. Depois de alguns segundos, comecei a receber ligações da imprensa e do meu irmão, e a ficha foi caindo devagar. Acho que foi algo que deixou todo mundo anestesiado — reflete.
Em entrevista a Zero Hora, Rodrigo Faro fala sobre a preparação para o papel, detalha sua relação com Silvio Santos e comenta as críticas que recebeu desde a divulgação das primeiras imagens do filme.
Confira a entrevista com Rodrigo Faro:
Você ficou 15 anos longe da atuação e voltou, justamente, para um papel que é de grande responsabilidade. Em algum momento pensou em recusá-lo?
Quando recebi o convite, na hora, pensei em não aceitar. E pensei isso porque, realmente, é muito difícil interpretar uma pessoa como o Silvio Santos, é de muita responsabilidade.
O que foi crucial para que decidisse aceitar?
Conversei com a minha esposa, que disse que o Silvio gostava muito de mim e me encorajou a falar com ele. Mandei uma mensagem para a assessoria do SBT e, no dia seguinte, recebi a resposta de que o Silvio me receberia no camarim. Ele questionou minha visita, e eu contei que fui chamado para fazer o filme. Ele começou a perguntar, falar da vida dele, e aqueles 30 minutos em que fiquei lá foram o maior laboratório que fiz nesse filme todo. Enquanto ele falava, eu observava cada detalhe, prosódia, pontuações, postura.
Depois, Silvio me convidou para participar do Programa Silvio Santos naquele data, 23 de dezembro de 2018, e falou que seria uma honra ser interpretado por mim. Aquilo me deu segurança. Eu falei: "Bom, ele gosta da ideia. E se ele gosta da ideia, eu vou fazer o filme para ele e por ele, em vida. Vai ser um artista que vai ter a homenagem em vida". Mas Deus não quis. Então, fica a homenagem e ficam os momentos, o olhar dele para mim.
Assim que os primeiros trailers foram divulgados, críticas ao filme começaram a pipocar na internet. Como você lidou com isso?
As críticas foram feitas antes do filme ser lançado, nem era a caracterização final. Acho que a crítica e a brincadeira na internet fazem parte, a galera gosta de brincar e zoar, e isso é bom para o filme. Antes de o filme ser lançado, já tinha 10 milhões de interações sobre ele. Isso criou uma expectativa, pois as pessoas querem saber se o filme está bom ou ruim, se a caracterização vai estar legal, se o Faro vai mandar bem. O mais legal é ver as reação das pessoas depois que assistem e percebem que gostaram.
Acho que a gente não vai fugir das críticas. Como espectadores, também não gostamos de tudo e isso faz parte. Cabe a nós entender o que é crítica e o que são comentários maldosos. O Silvio que eu criei é o Silvio do meu coração e coloquei muito empenho e amor nesse trabalho.
A proposta do filme exigiu que você interpretasse um Silvio Santos diferente daquele que víamos no palco. Como foi sua preparação para conseguir trazer esse outro lado dele, mais Senor Abravanel e menos Silvio Santos?
Acho que essa é a parte mais complicada, porque o Silvio todo mundo conhece. Todo mundo sabe imitar ele, não tem uma pessoa que não saiba fazer o “ma oê, vem pra cá”. Acho que o desafio foi mostrar o Silvio do dia a dia, o Silvio que a gente não conhece, o Silvio em um momento de medo, de terror. Só que a gente tem poucas informações desse Silvio. A gente conhecia o Silvio da TV, que acompanhava todo domingo, mas esse Silvio do dia a dia é o que eu fui buscar.
Como eu só tinha referências de livros, biografias e algumas conversas com ele, eu procurei fazer o Silvio que existe no meu coração, o Silvio que eu acredito que ele seja, o Silvio que mora em mim. Cada um tem um Silvio dentro de si, então, eu busquei esse Silvio. É ele que eu quero levar para as pessoas.
A relação do Silvio com o Fernando Dutra Pinto é um dos pontos mais importantes do filme. Como foi a parceria com o Johnnas, intérprete dele?
A gente teve pouco contato nos bastidores porque a intenção do Marcelo era fazer com que a relação entre nós dois fosse construída pouco a pouco, como o que aconteceu com Silvio e Fernando. Eles não se conheciam antes, e foram se encontrar em um momento tenso para ambos. Mais para o final das filmagens, Johnnas e eu nos aproximamos muito e nos conectamos de uma forma incrível. Ele é um ator muito generoso e foi uma experiência maravilhosa ter essa construção no set com ele, também.
Você sempre foi muito comparado ao Silvio Santos e, em termos de estilo, chegou a ser apontado como um possível substituto dele. O que pensa sobre isso?
Acho que estou muito longe desta grande pessoa que é o Silvio Santos, mas fico lisonjeado. Se um dia conseguir chegar a 1% do que ele foi e é, porque Silvio Santos e seu legado seguirão sempre conosco, estou realizado.