Cinco anos após o início do movimento #MeToo, o ator Kevin Spacey se apresentou à Justiça nesta quinta-feira (6) em Nova York, em uma ação civil apresentada pelo também ator Anthony Rapp, que o acusa de agressão sexual quando tinha 14 anos, em 1986.
O ex-astro de Hollywood de 63 anos chegou com aspecto relaxado e sorridente por volta das 9h locais (10h em Brasília) ao Tribunal Federal de Manhattan.
O julgamento começou por volta das 9h30min com a seleção do júri popular do tribunal presidido pelo juiz Lewis Kaplan. Spacey pode ser condenado a indenizar perdas e danos em valores significativos. Rapp pede US$ 40 milhões.
A acusação inicial de agressão sexual feita por Rapp, entretanto, não foi mantida pelo juiz Kaplan. O magistrado considerou que essa classificação não poderia abranger fatos já prescritos, além de não se enquadrar em uma lei estadual de proteção aos menores de idade de 2019.
O juiz imputou a Spacey a acusação de dano à integridade física de Rapp, que devido ao abuso sofreu de "angústia emocional", segundo um documento judicial de junho.
O ator, cuja fama mundial foi construída desde os anos 1980, graças a seus personagens em filmes como Beleza Americana (1999) e Os Suspeitos (1995), ou em seu mais recente trabalho na série House of Cards (2013–2018). Ele desapareceu das telas e palcos desde que foi uma das primeiras celebridades varridas pela onda global #MeToo, originada nos Estados Unidos.
Seu acusador, Anthony Rapp, foi protagonista da série Star Trek: Discovery e está prestes a completar 51 anos neste mês. Em setembro de 2020, Rapp apresentou uma queixa contra Spacey por supostas insinuações e agressão sexual durante uma festa em Manhattan há 36 anos.
Relembre o caso
No final de outubro de 2017, Rapp acusou Spacey pela primeira vez com detalhes em declarações ao BuzzFeed News. Um dia após a denúncia de Rapp, Spacey ofereceu suas "mais sinceras desculpas" por seu "comportamento bêbado e profundamente inapropriado". Depois da denúncia em 2020, o processo de Rapp foi arquivado no tribunal criminal federal mas progrediu na esfera civil.
O magistrado reconheceu que na festa de Nova York, no ano de 1986, "segundo o testemunho de Rapp, Spacey o levantou e 'esfregou' sua mão durante alguns segundos na roupa que cobria as nádegas de Rapp. Logo após, Spacey colocou Rapp em uma cama, de costas, e depois deitou completamente vestido, breve e parcialmente em cima de Rapp", com 14 anos na época.
No entanto, o adolescente rapidamente "escapou" e foi embora da festa. Rapp reconheceu que "não houve beijos nem nudez, nem toques dentro da roupa, nem declarações ou insinuações sexuais" em sua declaração, 35 anos depois.
"Esperamos que ele possa se defender perante um júri imparcial", disse a advogada de Spacey, Jennifer Keller, por e-mail.
O acusado já teve problemas com a Justiça tanto nos Estados Unidos quanto no Reino Unido. Em agosto, um juiz da Califórnia condenou Spacey a pagar quase US$ 31 milhões à produtora da série House of Cards, da qual havia sido demitido após as acusações de assédio sexual, que sempre negou.
Em Londres, ele é julgado por agressões sexuais contra três homens, entre março de 2005 e abril de 2013, quando era diretor de teatro. Ele se declarou inocente no mês de julho. Em Massachusetts, Spacey havia sido acusado de atentado ao pudor e também agressão sexual contra uma trabalhadora de 18 anos em um bar, em julho de 2016. As acusações foram retiradas em julho de 2019.