O ator Joshua Malina, conhecido por seus papéis em Scandal, The West Wing e The Big Bang Theory, publicou na semana passada o artigo Cancelem Mel Gibson no portal da revista The Atlantic. No texto, ele critica a contratação do astro para a direção de Máquina Mortífera 5 e questiona se há, realmente, uma cultura de cancelamento em Hollywood.
"Gibson é um conhecido odiador de judeus (antissemita é muito suave). Seus preconceitos são bem documentados. Então, minha pergunta é, o que uma pessoa tem que fazer esses dias para terminar na lista de exclusão de Hollywood?", escreve, no início do artigo.
Para Malina, o fato de Gibson ser bem-vindo em grandes franquias demonstra que a "cultura do cancelamento simplesmente não existe". E aponta: "O fato de que isso não parece incomodar os executivos da Warner Bros. me faz pensar se, para eles, 'os judeus não contam' – como humorista David Baddiel em seu livro de mesmo nome. Baddiel, um judeu britânico, argumenta que a sociedade 'educada' trata o antissemitismo como uma forma semiaceitável de preconceito".
Malina diz que não trabalharia com Gibson por nenhuma quantia em dinheiro. "Quebra meu coração refletir sobre quantos judeus devem ter feito parte do processo que levou ao anúncio da Warner Bros", continua, referindo-se ao estúdio responsável por Máquina Mortífera 5.
Malina sugere ainda que Gibson, além de antissemita, já deu declarações misóginas. Ele finaliza o texto dizendo não temer as consequências de suas críticas. "Escrevo isto sabendo que é mais provável que a Warner Bros. boicote o Joshua Malina do que Mel Gibson. Mas se for esse o resultado, que seja. Tive uma boa carreira. Seria ótimo se executivos, produtores e atores de alto nível também assumissem uma posição. Então eu poderia acreditar nessa cultura de cancelamento sobre a qual tanto leio. E eu também poderia acreditar que os judeus, de fato, contam", escreveu.
Declarações antissemitas de Mel Gibson
Desde pelo menos 2004, quando A Paixão de Cristo foi lançado nos cinemas, Mel Gibson é acusado de antissemitismo. Na época, a comunidade judaica questionou uma fala do filme que sugere que o povo judeu carrega a culpa coletiva pela morte de Jesus. Eles também criticam a representação física do povo com estereótipos preconceituosos.
Dois anos mais tarde, em 2006, Gibson deu declarações antissemitas ao ser preso por dirigir alcoolizado. Ao policial, que era judeu, ele disse que "os judeus eram responsáveis por todas as guerras do mundo". Em 2016, à Variety, ele se desculpou e falou que a afirmação foi feita "de cabeça quente".
Em 2020, a atriz Winona Ryder, que é judia, disse que já tinha ouvido comentários antissemitas e homofóbicos de Mel Gibson, em entrevista ao jornal The Sunday Times.
— Estávamos numa festa com um de meus bons amigos, e o Mel Gibson estava ali fumando um cigarro. Estávamos todos conversando, até que ele disse pro meu amigo, que é gay: "Espera um minuto, eu vou pegar AIDS?" — afirmou Winona. — Mais tarde, algum assunto sobre judeus veio à tona, e ele disse: "Você não é uma ‘oven dodger’, é?" — acrescentou ao relato.
Nos Estados Unidos, o termo "oven dodger" é usado para falar pejorativamente sobre judeus. Em tradução para o português, significaria “pessoa que escapou do forno”, fazendo referência aos campos de concentração durante o Holocausto. Segundo Winona, Gibson se desculpou logo em seguida. Já o astro nega que tenha dado as declarações.