Um curta-metragem de animação brasileiro está à disposição dos membros da Academia de Hollywood para apreciação e votação: trata-se de Umbrella, de Helena Hilario e Mario Pece, que entra nesta quinta-feira (7), no canal do YouTube da Stratostorm, o estúdio de produção da dupla. O filme fica disponível até o dia 21 de janeiro. Se o curta, produzido de maneira independente, for selecionado, será a primeira produção brasileira indicada para o Oscar na categoria.
Durante oito minutos e em clima de melodrama, a animação acompanha Joseph, um garotinho que mora em um orfanato. A chegada repentina de uma família, mãe e filha, com uma caixa de brinquedos para doação — e um guarda-chuva amarelo, chave da história de Joseph —, vai revelar o sofrido passado familiar do garoto, e contar mais do que isso é spoiler.
O roteiro, assinado pelos diretores, é inspirado em uma história real, vivida pela irmã de Helena em Palmas, no interior do Paraná. Ela foi até um orfanato fazer uma doação e um garoto lhe contou uma história similar à do filme.
— Meu sobrinho na época tinha quase a mesma idade do garoto no orfanato, e aquilo esmagou nosso coração — conta Helena, de Los Angeles, onde a produtora também tem um estúdio. O projeto começou a ser desenvolvido em 2011. — Eu falava muito com o Mario e com a minha irmã sobre como existem coisas que a gente não dá valor, mas que para os outros representam tanto e de uma forma tão dura. Logo em seguida, dias depois, a gente colocou no papel. Nunca tinha escrito um roteiro, mas foi com tanta verdade e com tantas lágrimas que saiu rápido. Queríamos contar com empatia, fazer as pessoas olharem para o próximo.
Com experiência no mercado da publicidade e do audiovisual sempre com um pé na pós-produção e nos efeitos visuais, a dupla sabia desde o início que o filme, o primeiro autoral de ampla divulgação, seria em formato de animação. O planejamento para lançar a obra de forma independente e autofinanciada começou em 2016, e a produção em si, em 2018. Umbrella foi concluído em dezembro de 2019, estreou no prestigioso Festival de Cinema de Tribeca, de Nova York, e esteve na seleção de outros 19 festivais, entre eles o Cinequest (do Vale do Silício), o Chicago International Film Festival, o Calgary International Film Festival e o Animayo (da Espanha), todos realizados de maneira digital ao longo do ano passado. A seleção diversa cria expectativas para o Oscar — a Academia divulga uma pré-lista de algumas categorias no dia 9 de fevereiro, e os indicados saem no dia 15 de março. A cerimônia está marcada para 25 de abril.
— Somos o único curta brasileiro qualificado para os membros da Academia — explica Helena. — Como toda a produção do filme, estamos numa campanha independente, mas acredito que existem chances por ser de um país como o Brasil, que nunca teve uma indicação nessa categoria. Sempre são indicados filmes independentes e de estúdio — diz a diretora, citando Alê Abreu, de O Menino e o Mundo (indicado em 2016 para melhor longa de animação), e Carlos Saldanha como artistas brasileiros que abriram os olhos de Hollywood para a animação nacional nos últimos anos.
— A gente sempre foi muito pé no chão, olhando para o nosso próprio quintal — conta Helena.
A equipe inicial tinha apenas a dupla de diretores e mais três artistas, e ao longo do tempo outros profissionais foram emprestando seu talento, como por exemplo Victor Hugo Queiroz, que trabalhou em Moana (2016), da Disney. Em Umbrella, o supervisor de computação gráfica é Alan Prado e a direção de arte ficou por conta de Dhiego Guimarães.