A Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom) usou uma conta virtual oficial para atacar a cineasta Petra Costa, indicada ao Oscar de Melhor Documentário por Democracia em Vertigem, com visão crítica ao impeachment da petista Dilma Rousseff.
Em post no Twitter nesta segunda (3), a secretaria sob comando de Fabio Wajngarten chama Petra de "militante anti-Brasil". As críticas foram motivadas por declarações que a documentarista deu à PBS, uma emissora pública dos Estados Unidos.
As falas contrárias ao governo Jair Bolsonaro despertaram a reação irada da Secom, que colocou a mensagem atacando Costa em destaque no seu perfil do Twitter — e para o público internacional ler, já que o recado está em inglês.
"Sem a menor noção de respeito por sua nação e pelo povo brasileiro, Petra afirmou num roteiro irracional que a Amazônia vai virar uma savana e que o presidente Bolsonaro ordena o assassinato de afro-americanos e homossexuais", afirma o post. "É inacreditável que uma cineasta possa criar uma narrativa cheia de mentiras."
Os ataques estão também num vídeo que, para cada declaração de Costa considerada infundada, lança um carimbo de fake news.
Os tuítes da Secom ferem a Constituição, segundo a advogada Mônica Sapucaia Machado, especialista em direito administrativo. Professora da Escola de Direito do Brasil, ela evoca o artigo 37 da Carta:
— Ele deixa claro que a administração pública se submete aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, e determina ainda que a publicidade dos governos terá caráter educativo, informativo ou de orientação social. A secretaria tem como função dar publicidade à gestão federal e ampliar o acesso à informação de interesse público — afirma a advogada. — Nunca deve se comportar como um instrumento de opinião sobre determinada obra cultural, até porque no Brasil a liberdade de expressão é um pilar constitucional.
Para Mônica Machado, os posts da pasta avançam o sinal vermelho ao expor a artista, "a ofendendo, o que não está autorizado à administração pública em nenhuma hipótese".