A atriz Anna Karina, conhecida por seus papéis nos filmes de Jean-Luc Godard e um dos símbolos da Nouvelle Vague, morreu no sábado, em Paris, aos 79 anos, em decorrência de um câncer, anunciou neste domingo (15) seu agente à agência de notícias AFP: "Anna morreu ontem em um hospital parisiense vítima de câncer. Ela era uma artista livre e única", disse Laurent Balandras.
O marido da atriz, o diretor americano Dennis Berry, estava com ela na hora da morte, segundo Balandras. "Hoje, o cinema francês ficou órfão. Perdeu uma de suas lendas", afirmou o ministro da Cultura da França, Franck Riester, no Twitter.
Nascida em Copenhage, na Dinamarca, de rosto pálido e grandes olhos azuis, Anna filmou sete filmes com Godard, com que teve um relacionamento afetivo e profissional nos anos 1960. Desde a infância na Dinamarca, entre uma mãe distante, uma avó falecida cedo demais e um avô que ela adorava, a atriz cultivava grande sensibilidade. Ainda menor de idade, viajou para Paris pedindo carona com a ideia de se tornar atriz. Rapidamente começou uma carreira como modelo.
Foi a estilista Coco Chanel quem mudou seu nome verdadeiro, Hanne Karin Bayer, para Anna Karina. Godard a descobriu em um anúncio e propôs um pequeno papel em Acossado (1960), marco da Nouvelle Vague estrelado por Jean Seberg e Jean-Paul Belmondo, mas ela rejeitou o trabalho.
O cineasta a chamaria novamente alguns meses depois para ser a protagonista de O Pequeno Soldado, um filme sobre a guerra da Argélia. Durante as filmagens, surgiu um romance entre eles, casamento que duraria até 1967. Juntos, filmaram sete filmes, entre os quais Uma Mulher É uma Mulher (1961), prêmio de melhor interpretação no Festival de Berlim, Viver a Vida (1962), Bando à Parte (1964), no qual protagonizou uma das cenas mais clássicas da história do cinema (veja abaixo), e O Demônio das Onze Horas (1965).
– Viver com Godard era complicado, disse em entrevista à AFP, em 2018 . – Nós nos amávamos muito. Mas era difícil viver com ele. Era alguém que poderia dizer "vou buscar um cigarro" e voltar depois de três semanas. Não havia smartphone, nem secretárias eletrônicas.
O relacionamento deles foi marcado por uma tragédia, a perda de um filho que ela esperava. A última vez que esse casal mítico se viu foi há mais de 20 anos. Desde então, não houve contato.
– Ele está na suíça e não abre a porta. Não, não fico triste. Afinal, é a vida dele – declarou.
Consagrada como a musa e atriz fetiche de Godard, Anna Karina pouco trabalhou com outros grandes nomes da Nouvelle Vague. Uma exceção foi Jacques Rivette, em A Religiosa (1966).
– Eu era a mulher de Jean-Luc. Isso certamente lhes dava um pouco de medo – explicou em outra ocasião.
Em 1973, Anna dirigiu seu primeiro filme, Vivre Ensemble, uma história de amor entre drogas e álcool:
– É um retrato da minha juventude. Vi pessoas ao meu redor afundar e morrer.
Depois de Godard, Karina se casou sucessivamente com os cineastas Pierre Fabre e Daniel Duval e, em 1982, com o americano Dennis Berry. Como cantora, teve grande sucesso em 1967 com Sous le Soleil Exactement, de Serge Gainsbourg, tema do telefilme musical Anna, de Pierre Koralnik.