Um dos nomes de referência do cinema francês, Jacques Rivette morreu nesta sexta-feira em Paris. Ele tinha 87 anos e, de acordo com a imprensa francesa, sofria de Mal de Alzheimer. Seu último longa na direção foi 36 Vues du Pic Saint Loup, lançado em 2009 na Europa, mas que nunca ganhou estreia comercial no circuito brasileiro.
Junto a Claude Chabrol, Éric Rohmer, Jean-Luc Godard e François Truffaut, Rivette foi um dos expoentes da Nouvelle Vague, movimento que revolucionou a produção francesa e, com o neorrealismo italiano, todo o cinema de autor mundial a partir da década de 1950.
Nascido em 1926, Pierre Louis Rivette começou a sua carreira como assistente de realizadores consagrados, como Jean Renoir e Jacques Becker. Colaborou com a "Bíblia do cinema francês" Cahiers du Cinéma, de onde surgiu o núcleo que formaria a Nouvelle Vague. O primeiro longa-metragem que dirigiu foi Paris nos Pertence (1960), filme menos badalado do movimento mas já uma amostra de seu talento como encenador e criador de narrativas ricas e invariavelmente complexas.
Drama psicológico sobre uma jovem noviça que é perseguida e sujeita a torturas (Anna Karina), A Religiosa (1966) é um de seus títulos mais conhecidos. A produção se tornou polêmica e chegou a ser proibida na França pelo presidente Charles De Gaulle devido ao conteúdo "antirreligioso".
Os monumentais Amor Louco (1969, muito difundido com seu título original, L'Amour Fou ) e Out 1 (lançado em duas versões, uma com 12 horas, em 1971, outra com quatro horas, em 1974) figuram na lista dos grandes filmes franceses do século 20. "Foi o cineasta do presente contínuo", escreveu o programador da Sala P.F. Gastal Leonardo Bomfim em artigo publicado em Zero Hora acerca das obras-primas de longa duração que assinou após as turbulências de 1968 em Paris.
O texto ganhou as páginas de ZH quando a P.F. Gastal apresentou em Porto Alegre uma grande mostra dos filmes de Rivette, em 2013, aproveitando que as cópias em 35mm estavam disponíveis no país para uma mostra organizada pelo Centro Cultural Banco do Brasil. Na ocasião pôde ser vista, entre outros, a comédia surrealista Céline e Julie Vão de Barco (1974), outra referência de seu trabalho, além de um documentário que a cineasta Claire Dennis dedicou a Rivette (Jacques Rivette, um Vigilante, de 1990).
Na ocasião, ficou faltando A Bela Intrigante (1991), drama estrelado por Jane Birkin e Michel Piccoli que deu ao cineasta alguns de seus principais prêmios – entre eles um Grand Prix do Festival de Cannes. De todo modo, foi um digno adeus dos cinéfilos porto-alegrenses a um dos grandes do cinema.