Presidente do júri da atual edição do Festival de Berlim, a atriz Juliette Binoche surpreendeu quem esperava dela alguma declaração mais combativa em relação ao hoje arruinado produtor Harvey Weinstein.
— Não podemos nos esquecer de que ele foi um grande produtor — afirmou a francesa de 54 anos na conversa com a imprensa que abriu a mostra alemã de cinema, na manhã desta quinta (7). — Muitas pessoas já se posicionaram, inclusive eu. Acho que ele teve o suficiente e agora é a hora de a Justiça fazer o trabalho.
Binoche trabalhou com Weinstein em filmes como O Paciente Inglês (1996) e Chocolate (2001), ambos produzidos por ele.
A fala da atriz ressoa, de alguma forma, a posição menos radical que artistas e intelectuais francesas têm manifestado em relação ao movimento feminista #MeToo. No ano passado, sua conterrânea Catherine Deneuve criticou a sanha condenatória de suas colegas americanas em relação ao tema do assédio.
Binoche comemorou o grande número de diretoras, sete no total, na competição deste ano.
— Dieter (Kosslick, diretor do festival) me disse que estava feliz porque não teve de selecioná-los por serem dirigidos por mulheres, mas porque são efetivamente bons. É um bom sinal.
A seu lado, Rajendra Roy, curador-chefe da parte de cinema do MoMA (Museu de Arte de Moderna de Nova York), trajava uma camiseta vermelha com os dizeres "The Future Is Female" (o futuro é feminino). Ele também integra o júri do Festival de Berlim. Além de Binoche e Roy, integram o corpo de jurados desta edição da mostra a atriz alemã Sandra Hüller (Toni Erdmann), a produtora britânica Trudie Styler (Skin), o diretor chileno Sebastián Lelio (Uma Mulher Fantástica) e o crítico americano Justin Chang.
Eles foram questionados sobre a presença de uma produção da Netflix na competição (Elisa y Marcela, da espanhola Isabel Coixet). Mostras como a de Cannes têm sido inflexíveis e não admitem produções do streaming na sessão principal.
— Podemos questionar a forma como essas empresas fragilizam o cinema independente, mas são uma nova forma de produção e, como tudo o que é novo, são empolgantes — disse Binoche.
Ela afirmou que Elisa y Marcela será exibido nos cinemas espanhóis, o que derrubaria críticas a respeito de sua escalação.
Já o cineasta Sebatián Lelio foi mais enfático em sua defesa do circuito tradicional de exibição.
— Me pergunto se um filme terá a mesma relevância cultural se ele não é lançado nos cinemas. Estamos numa encruzilhada, mas sou um defensor da experiência coletiva de se ver um filme nas salas.