A dimensão do francês Chris Marker (1921—2012) para a história do cinema é, ao mesmo tempo, imensa e pouco conhecida do grande público, em razão do caminho que este inquieto e inventivo diretor trilhou assinando obras que ajudaram a escrever a gramática do registro documental — é umas das fortes influências no gênero, por exemplo, do brasileiro João Moreira Salles e do chileno Patricio Guzmán.
Marker despontou à época da nouvelle vague, mas fez sua turma à margem do movimento, ao lado de amigos como Agnès Varda e Alain Resnais — com eles formou o movimento Rive Gauche, pautado por trabalhos sem amarras estéticas e com estreito diálogo com a fotografia, as artes plásticas e a literatura. Estre os títulos referenciais de sua volumosa e diversificada produção, está o curta-metragem La Jetée (1962), ficção científica formada por colagens de fotografias que serviu de inspiração para Terry Gilliam realizar Os 12 Macacos (1995), longa estrelado por Bruce Willis e Brad Pitt.
Marker é autor de alguns dos trabalhos mais importantes sobre o movimento de fricção política, cultural e comportamental com impacto mundial e que é tema de uma mostra em cartaz na Cinemateca Capitólio (Rua Demétrio Ribeiro, 1085). Dois desses filmes serão exibidos nesta quarta-feira (9).
Às 18h, Até Logo, Eu Espero (1968), codirigido com Mario Marret, é um média-metragem com 55 minutos de duração que registra a ocupação por trabalhadores em greve da fábrica têxtil Rhodiaceta, na cidade de Besançon, em 1967. O trabalho, jornalístico por princípio e militante na tomada de partido pelos realizadores, capta a gênese do espírito revolucionário que eclodiria no Maio de 1968 — mas protagonizado por estudantes universitários que incorporaram as suas reivindicações as demandas dos operários por melhores salários e menor carga horária. Mas estes trabalhadores não abraçaram o apoio daqueles jovens burgueses. O filme traz entrevistas sobre as condições de trabalho insalubres, aspirações dos operários a uma vida melhor e também expõe as dissidências que minaram a força do movimento.
Na sessão das 19h, uma obra-prima. O Fundo do Ar é Vermelho (1977) promove um robusto balanço, com três horas de duração (duas parte de 90min), dos movimentos revolucionários que convulsionaram o mundo anos anos 1960 — dos protestos nos EUA contra a Guerra no Vietnã e da insurgência de estudantes e operários na França à Primavera da Praga, destacando a influência naquela geração de jovens das revoluções promovidas por Fidel Castro em Cuba e Mao Tsé-Tung na China — e os sonhos e frustrações decorrentes desse apaixonado engajamento.