Deixe de lado o rancor político e a polêmica sobre a indicação para representar o Brasil no Oscar quando assistir pela primeira vez ao Pequeno Segredo. O filme tem um apelo inabalável: uma história real de amor incondicional e generosidade, tão escasso ultimamente. Pode ser que os clichês de algumas cenas e a desconexão com a atmosfera anos 90 / 2000 não dialogue com critérios mais “cult” da tradição do cinema nacional, mas o longa cumpre e bem o papel de emocionar. É essencialmente uma história de mãe e filha, sobre mortalidade, maternidade e o poder do feminino.
Julia Lemmertz interpreta Heloísa Schurmann, a “mãe” da família de navegadores catarinenses que em 2013 contou em livro a história de Kat: filha adotiva que morreu em 2006, aos 13 anos, devido a complicações de uma doença incurável. Em interpretação impecável (Julia segura o filme), ela incorpora o papel de uma mulher forte mas cheia de ternura, que faz o espectador ter nós na garganta ainda que ela derrube apenas uma lágrima durante os 108 minutos.
– Ela é minha alma gêmea – disse Heloísa, abraçando a atriz durante a noite de pré-estreia em Florianópolis na terça. Em entrevista, as duas falaram sobre o filme, a maternidade e amor. A estreia oficial de Pequeno Segredo é nesta quinta-feira, nos principais cinemas de Santa Catarina. A direção é de David Schürmann, irmão de Kat.
Vocês se encontraram antes de a Heloísa viajar, em 2014, e durante as filmagens a Julia foi construindo a personagem. Como foi esse processo?
Julia Lemmertz – A ideia era fazer a maior aproximação possível com Heloísa. Mas fui construindo aos poucos, afinal somos diferentes, o corpo é diferente. Fui me aproximando do temperamento dela, de como se relacionava com todos. Como é ter uma filha depois de três filhos homens e já crescidos, como ela encarou adotar uma menina que tinha uma doença grave. Eu fui processando dentro de mim, com o roteirista e o diretor. David estava presente o tempo todo. Dizia: “minha mãe falaria desse jeito...” Fui entendendo essas nuances. Mas nada foi sozinho. Tinha a Mariana e os outros atores. Você vai montando um quebra cabeças de pessoas, laços afetivos. E no final resulta em algo que é próximo da realidade.
Heloísa – Nesse filme eu revivi essa história, não apenas lembrei. E a Julia realmente se coloca como personagem. Ela é minha alma gêmea (risos). Me senti revivendo tudo.
No filme, a firmeza de Heloísa ao lidar com a situação é comovente. E você chorou só uma vez em cena. Como vocês trabalharam a questão do drama?
Julia – Heloísa nunca desmontou na frente da Kat. Ia chorar sozinha, no quarto. Era firme e cheia de positividade. Entendi isso como uma forma maravilhosa de incentivar a menina a ter confiança e seguir em frente. Acho muito ruim quando o ator se emociona demais. É mais bonito quando você sente a emoção, mesmo que ele não chore. Isso é mais forte do que ir às lagrimas em frente das câmeras.
|| Assista ao trailer oficial:
Heloísa, quando você lançou o livro em 2013, você contou que muitas pessoas te procuravam para contar que também tinham um segredo...
Heloísa – ainda recebo e-mails de pessoas que dizem: tenho HIV, ninguém sabe. Hoje as crianças podem nascer sem. Muitas mães não fazem o acompanhamento e não sabem que é possível tratar antes.
Julia – Acho bonito que o filme não fica mostrando o lado difícil de lidar com a doença.
O filme toca em temas como discriminação e doenças que são tabus. O que acham que pode servir de reflexão?
Julia – É um filme muito amoroso. Propõe uma reflexão sobre pequenos gestos de generosidade. O amor incondicional pode mudar uma vida. Quando você vê um filme que conta uma história real de amor, quer sair dizendo para as pessoas: vou te ajudar. Saio com vontade de abraçar as pessoas e dizer, “ei, você não está sozinho”. A gente vai sofrer se nos abandonarmos.
Heloísa – Kat viveu uma vida muito alegre e aventureira. Na pré-estreia em São Paulo, encontrei a Luana (amiga de infância) e ela lembrou que a Kat nunca reclamava ou lamentava. A própria história dos pais da Kat é exemplo. Eles são de mundos diferentes e as pessoas discriminavam. Viajando pelo mundo a gente vê muito isso. Mas não se leva nada desse mundo, a não ser esse amor incondicional.
Julia – Meu Oscar foi poder assistir ao filme com eles e ver que ela gostou.
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