Diferentemente da disputa de longas brasileiros, a competição latino-americana no 44º Festival de Cinema de Gramado largou mal na segunda-feira. Las toninas van al este (2016), segundo longa-metragem programado para a noite, não pôde ser projetado por problemas técnicos – a coprodução uruguaio-argentina será exibida em nova sessão, a ser anunciada em breve. Já o título da categoria que chegou à tela, o cubano Espejuelos oscuros (2015), decepcionou: o filme de Jessica Rodríguez é fraquíssimo, previsível e com um roteiro frouxo.
Apresentando seu longa de estreia no palco do Palácio dos Festivais, a jovem cineasta que mora em Madri, na Espanha, ressaltou a excepcionalidade de sua obra:
– É um filme feito de forma totalmente independente, com pouco orçamento. Com toda a tradição cinematográfica que Cuba tem, é apenas o quatro longa-metragem feito por uma mulher na ilha.
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Espejuelos oscuros (Óculos escuros, em tradução literal) é uma espécie de As mil e uma noites contemporâneo: vivendo sozinha com seu gato em uma casa isolada, Esperanza (Laura De la Uz, conhecida atriz cubana de filmes como Hello Hemingway e 7 dias em Havana) torna-se refém de um fugitivo que invade sua casa. A fim de adiar um iminente estupro, a protagonista ganha tempo contando histórias para o ladrão Mario (Luis Alberto García). As três narrativas dessa Sherazade caribenha são ambientadas em Cuba em épocas distintas: durante os anos 1970, no auge da patrulha ideológico-burocrática do regime comunista; na ditadura de Fulgencio Batista, às vésperas da revolução de 1959; e no final do século 19, durante a guerra de independência do país.
Apesar da estrutura em princípio engenhosa – que remete a outro título cubano, o clássico Lucía (1968), de Humberto Solás –, Espejuelos oscuros naufraga por conta do amadorismo da mise-en-scène da estreante diretora, que não consegue extrair de seus atores mais do que atuações meramente esquemáticas.
Na terça-feira, dois outros longas latino-americanos seriam exibidos na competição: Carga sellada (2015), coprodução entre Bolívia, México, Venezuela e França dirigida por Julia Vargas, e o paraguaio-argentino Guaraní (2016), de Luis Zorraquin.