Às vésperas de completar 84 anos, que serão celebrados em agosto, a Associação Riograndense de Artes Plásticas Francisco Lisboa enfrenta dificuldades financeiras. Com o aluguel pesando em sua contabilidade, a entidade deve deixar sua sede na Cidade Baixa, em Porto Alegre – ainda não se sabe exatamente quando. Para ajudar na manutenção da entidade, a exposição SolidarChico entrou em cartaz no dia 12 de julho.
A mostra conta com obras que foram doadas por artistas como Zoravia Bettiol, Eduardo Vieira da Cunha, Daniela Cidade, Graça Craidy, Miriam Tolpolar, Clara Pechansky, Leandro Selister, Gilberto Perin, Laura Castilhos e Vera Behs. Há pinturas, esculturas, cerâmica, desenhos, fotografias, gravuras, colagens e livro de artista. Até 31 de julho, das 14h às 18h — até as 17h nos finais de semana —, a atual sede da Chico Lisboa (Travessa dos Venezianos, 19) está expondo e vendendo os trabalhos para a manutenção da entidade.
Segundo Lisiane Rabello, presidente da associação, as adversidades se intensificaram a partir da pandemia, já que a Chico Lisboa ficou impossibilitada de realizar eventos como exposições e cursos, que auxiliam a pagar os custos. Outro fator que pesou foi que muitos sócios pararam de pagar a anuidade no período — embora a entidade tenha atravessado e sobrevivido essa fase promovendo atividades virtuais e com auxílio dos associados. Soma-se isso, agora, com a alta geral de preços e o aumento do aluguel de sua sede.
— Durante a pandemia, conseguimos que o proprietário da casa onde é a nossa sede reduzisse o aluguel — relata Lisiane. — Só que o valor voltou ao que era anteriormente com todos os reajustes. Neste momento, tornou-se inviável a permanência neste imóvel.
Nos próximos meses, a Chico Lisboa deve deixar a Travessa dos Venezianos, onde está situada desde 2004. Antes, a entidade já teve sedes no Edifício União, na Borges de Medeiros, e no Atelier Livre Xico Stockinger, no Centro Municipal de Cultura. De acordo com Lisiane, o problema com a sede não é recente: há muito tempo se procura esse espaço. Diretorias anteriores já haviam tentado.
Por outro lado, conforme Lisiane, a entidade espera fechar duas parcerias, uma delas com a Associação Médica do Rio Grande do Sul (Amrigs), com a finalidade de utilizar um espaço para exposições. Em setembro ou outubro, uma mostra coletiva dos associados deve inaugurar a parceria. A outra negociação envolve o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), com a Galeria de Arte do Dmae, no Centro Histórico-Cultural Antônio Klinger Filho.
— Esta parceria com o Dmae possibilitará, por tempo determinado, que a Chico Lisboa continue com seus eventos, exposições e toda a assistência aos seus sócios e à cultura do nosso Estado — garante Lisiane.
Além disso, a Chico Lisboa tem previstos em sua agenda eventos como a tradicional feijoada de aniversário no mês de agosto, Feira de Arte Aplicada, Exposição 30x30, entre outras atividades.
— Foi emocionante pela resposta da sociedade. Várias pessoas nos procuraram para ajudar. Isso eu achei muito importante — diz Lisiane. — De qualquer forma, não vamos parar com as nossas atividades, porque a gente já tem espaço. Esse carinho das pessoas vai garantir que a gente siga trabalhando pela Chico.
Oito décadas
A Chico Lisboa foi fundada em 1938, sendo uma das mais antigas entidades culturais em funcionamento no Estado. Seu site oficial informa que o objetivo é "promover as artes visuais e defender os interesses dos seus associados perante a sociedade", tendo participado também de momentos políticos, "como a luta contra o Estado Novo, pela Anistia e pelas Constituintes em 1946 e 1988, e pela liberdade de expressão nos momentos em que esta foi reprimida".
Alguns expoentes gaúchos das artes plásticas já integraram cargos da diretoria da Associação, como Carlos Scliar, Guido Mondim, Xico Stockinger, Vasco Prado e Zoravia Bettiol. Aliás, Lisiane destaca que muitos artistas gaúchos surgiram das exposições da Chico Lisboa.
— O que a gente faz é justamente dar visibilidade para os artistas. É uma instância de valorização da arte — diz a presidente. — Qualquer pessoa pode ter acesso à Chico Lisboa. A gente também promove cursos, sejam básicos de história da arte ou mais avançados para artistas. Nossa ideia é democratizar a arte o máximo possível.