Até São Pedro estava querendo a volta da Noite dos Museus e, por isso, proporcionou um sábado (21) de céu limpo e convidativo para sair por Porto Alegre, mesmo com temperatura que chegou a cair para 10ºC. Frio nem deu para sentir, já que a noitada cultural foi aquecida pelo calor humano das milhares de pessoas que foram matar a saudade do evento e, também, por aqueles que saíram para curtir a atração pela primeira vez.
A iniciativa retornou ao formato presencial depois de dois anos. Por conta da pandemia, em 2020, o evento aconteceu de maneira online e, em 2021, não foi realizado. Nesta edição, porém, voltou ainda maior, para compensar a todos pela espera e reaproximar as pessoas da arte. A iluminação foi caprichada, deixando tudo às claras, assim como a segurança e a oferta de serviços básicos, como banheiros. E tudo isso foi motivo de elogio pela maioria dos presentes ouvidos pela reportagem.
— A noite de sábado foi memorável, juntando multidões para assistir à uma programação cultural e artística. O mote desta edição da Noite dos Museus foi o reencontro. Reencontro com os centros culturais e, também, com os espaços públicos e com as pessoas. Foi um sucesso — afirmou o integrante do Conselho Artístico da Noite dos Museus, Roger Lerina.
Neste ano, a Noite dos Museus ofertou para os porto-alegrenses 21 instituições abertas à visitação — o maior número até aqui — e cerca de cem atrações artísticas, entre shows, performances e outras intervenções. Tudo isso de maneira gratuita, buscando democratizar a cultura e, ainda, propiciando a divertida experiência de visitar os espaços em um horário não convencional: à noite.
Em 2019, em sua última edição presencial antes desta, 105 mil pessoas foram ao evento. Em 2022, 180 mil pessoas comparecem ao evento, de acordo com dados da organização. Foi visível a multidão que se fez presente para curtir as atrações e poder acessar os centros culturais — a espera para entrar nos locais visitados pela reportagem ia de 20 minutos a duas horas.
Atrações
Entre os 21 espaços participantes desta edição, 15 já eram veteranos no evento: Casa de Cultura Mario Quintana (CCMQ), Centro Histórico-Cultural Santa Casa, Cinemateca Capitólio, Espaço Força e Luz, Farol Santander, Memorial do Rio Grande do Sul, Museu da Brigada Militar, Museu da Comunicação Hipólito José da Costa, Museu da UFRGS, Margs, Museu de Porto Alegre Joaquim Felizardo, Museu Julio de Castilhos, Pinacoteca Aldo Locatelli, Pinacoteca Ruben Berta e Planetário da UFRGS.
E foi entre o Margs e o Memorial do Rio Grande do Sul que foi montado o palco principal da Noite dos Museus, bem no coração da Praça da Alfândega. Ali, ocorreu uma série de shows, que começou com uma empolgante apresentação da Imperadores do Samba, escola de samba vencedora do Carnaval de Porto Alegre em 2022.
O intérprete da escola, Sandro Ferraz, de cima do palco, ainda gritou para a multidão, que o aplaudiu efusivamente:
— A noite pode estar fria, mas o nosso coração está quente!
Ali, já deu para sentir que o clima da noite seria festivo e, de fato, foi. O povo caiu no samba e cantava a plenos pulmões. Mais tarde, ainda ocorreu no local a primeira apresentação internacional da Noite dos Museus, com a cantora argentina Barbarita Palacios.
O clima — além do cheiro de quentão que tomava conta — estava tão bom que nem a fila incomodou quem estava pela Praça da Alfândega. As pessoas aproveitaram o tempo para conversar e se reconectar com os espaços públicos. Os estudantes Miguel Trindade e Sarah Guterres, por exemplo, estavam bem empolgados enquanto aguardavam para entrar no Margs.
— O lado bom da fila longa é que mostra que tem bastante gente interessada em entrar nos museus, né? E, também, o brasileiro adora uma fila — brincou Trindade.
Já na CCMQ, Betina Duarte, professora de Santa Cruz do Sul, estava maravilhada com as luzes e posava concentrada para as selfies — ela veio para Porto Alegre para uma reunião do sindicato do qual faz parte, mas a ideia dela e dos colegas era que a data batesse justamente com a da Noite dos Museus. O planejamento, para alegria dela, deu certinho.
— Estou fazendo registro de tudo para compartilhar. Quero levar aos meus alunos um pouco dessa cultura que integra espaços. A gente curtiu tudo aqui e, ainda, tomamos um quentão para aquecer. Na saída, vamos de chope — contou.
Enquanto isso, outros seis locais foram novidade nesta edição da Noite dos Museus: Instituto Ling, Museu Militar do Comando Militar do Sul, Palácio Piratini, Galeria do Dmae, que abriu com exposição do Instituto Goethe, Fábrica do Futuro, que recebeu uma mostra assinada pelo MACRS, e Multiverso Experience, no Cais Embarcadero, que ofereceu uma experiência imersiva para os visitantes, projetando obras de Van Gogh e Monet nas paredes e encantando quem passou por lá.
Neste último, porém, a espera nas filas estava um pouco maior do que o esperado pelos visitantes — cerca de duas horas — mesmo que o trajeto dentro do local dure cerca de 20 minutos e receba, por vez, cerca de 350 pessoas. Como era uma grande novidade e que tem um custo considerado alto para visitação em dias convencionais — R$ 40 na promocional —, uma multidão se reuniu no local para ingressar gratuitamente.
As amigas Júlia Britto, estudante de Engenharia, Caroline Amaral, designer gráfica, Evelyn Brendel, estudante de Psicopedagogia, e Pathy Carvalho, estudante de Biomedicina, saíram encantadas da experiência, apesar da demora para entrar no espaço.
— É a nossa primeira vez na Noite dos Museus e tem bem mais gente do que pensávamos, mas valeu a pena encarar a fila gigantesca. É um jeito de levar cultura para os jovens sem ser chato, de uma maneira legal — afirmou Júlia.
Laís Lourenço, dona de um truck de cerveja artesanal, foi para o evento acompanhada dos dois filhos, Maximiliano, seis anos, e Alice, quatro.
— A estrutura está bem legal. É a primeira vez que a gente vem, viemos conhecer. Nunca tínhamos entrado nesses museus. E o policiamento está ótimo, bem diferente do resto dos dias, em que nem dá pra andar por aqui — disse Laís.
Maximiliano, por sua vez, contou que gostou bastante de conhecer os museus de noite, mas ficou um pouco decepcionado por não ser como o filme Uma Noite no Museu:
— Nada ganhou vida.
Mas ganhou, Maximiliano. Arte é vida. E não faltou arte nesta Noite dos Museus.