A programação alusiva aos 250 anos de Porto Alegre, comemorados no dia 26 de março, está recheada de opções ao longo de todo o mês. Três delas prometem agradar os amantes da arte: Fundação Iberê Camargo, Farol Santander e Margs têm suas festas particulares para celebrar o aniversário da Capital. Tratam-se das exposições alusivas à história do município, todas elas com uma reunião de obras que resgatam a memória e a identidade de Porto Alegre ao longo de seus dois séculos e meio.
Para quem quiser seguir o percurso festivo — que tal começar pelo Iberê, na Zona Sul, e rumar ao Centro para finalizar o passeio no Farol e no Margs? —, GZH apresenta cada uma das três exposições.
Iberê e Porto Alegre — No Andar do Tempo
Iberê Camargo (1914-1994) não nasceu em Porto Alegre — é natural de Restinga Seca —, mas foi pros lados de cá da ponte do Guaíba que escolheu viver: quando, ainda com 22 anos, decidiu que este seria o seu lugar no mundo. Da pensão no Centro que lhe serviu de lar logo que chegou à casa no alto do bairro Nonoai, dividida com a esposa Maria Coussirat Camargo nos anos finais de sua vida, muitos foram os espaços que marcaram o período vivido por ele na capital gaúcha.
"Olaria, Varzinha, Arvoredo - Oh! a Rua da Praia dos encontros e dos namoros! Praça da Alfândega, do Portão, da Matriz... são ilhas cheias de verde e de luz. Nomes que nasceram da poesia popular e foram guardados na boca do homem, no tempo que torna as coisas sagradas. Lugares cheios de histórias", escreveu ele em carta enviada à Câmara Municipal em julho de 1970, na ocasião em que recebeu o título de Cidadão de Porto Alegre.
São lugares que não ficaram guardados apenas no coração do artista, mas retratados em pinturas e desenhos que, agora, formam a exposição Iberê e Porto Alegre — No Andar do Tempo, um percurso visual por Porto Alegre, quase que de mãos dadas com Iberê, disposto nas paredes da instituição que leva o nome dele.
O pôr-do-sol no Guaíba, inspirador para sua última pintura, Solidão; o Parque Farroupilha e a movimentação em dia de brique, observada por ele na série Ciclistas; e a agitada Rua dos Andradas, cujos caminhantes ágeis e manequins imóveis motivaram diversas de suas produções, são alguns dos locais reproduzidos e ressignificados pelo olhar do artista nas 38 obras que compõem a mostra, organizada por Eduardo Haesbaert e Gustavo Possamai.
- Em cartaz na Fundação Iberê (Av. Padre Cacique, 2.000)
- Visitação de quinta a domingo, das 14h às 18h, até 31 de julho
- Entrada gratuita nas quintas-feiras, por ordem de chegada, e mediante compra de ingresso com hora marcada nas sextas, sábados e domingos
- Ingressos a R$ 20 (individual) ou R$ 30 (para duas pessoas), para visitação completa da instituição, disponíveis na plataforma Sympla
Sioma Breitman — O Retratista de Porto Alegre
Sioma Breitman (1903-1980) também não deu seu primeiro choro de vida na capital gaúcha. Foi na Ucrânia, onde nasceu. Mas aqui, à beira do Guaíba, para onde veio com a família a fim de escapar do conturbado período da Revolução Russa de 1917, é que se tornou um fotógrafo de nome reconhecido. E não à toa. É de Breitman a autoria de alguns dos registros mais emblemáticos da história da Capital no último século, expostos na mostra Sioma Breitman — O Retratista de Porto Alegre, no Grande Hall do Farol Santander.
São cerca de 200 imagens reproduzidas em ampliações grandiosas, de até 3m x 5m, sob curadoria de Andrea Pires e Fernando Bueno. Mais do que um imenso álbum de fotos, trata-se de uma reportagem fiel da vida da aniversariante Porto Alegre entre as décadas de 1920 e 1970.
— É uma mostra inédita em homenagem à capital gaúcha, que oferece ao público uma viagem no tempo pelo olhar refinado, poético e crítico. Com esta mostra celebramos a arte e a cidade, reafirmando nosso compromisso com o resgate da memória de Porto Alegre e fortalecendo nossa missão de continuar a despertar a criatividade, fomentar a cultura e estimular a diversidade de seus habitantes — define Patricia Audi, vice-presidente do Santander Brasil.
De retratos posados a flagrantes da vida urbana, do luxo de casamentos da alta sociedade gaúcha ao dia a dia exaustivo dos trabalhadores da cidade, evidenciando a desigualdade social, até a reportagem de tragédias históricas como a enchente de 1941, as fotografias do ucraniano de coração porto-alegrense demonstram como foram vividos alguns dos 250 anos de Porto Alegre. E revelam, ainda, como o próprio retratista viveu os seus anos na cidade, através dos diferentes posicionamentos artísticos identificáveis em suas obras.
- Em cartaz no Farol Santander (Rua Sete de Setembro, 1.028)
- Visitação de terça a domingo, das 10h às 19h, até 24 de abril
- Ingressos a R$ 15, para visitação completa da instituição, disponíveis na plataforma Sympla
Acervo em Movimento
Porto-alegrenses ou não, mais de 40 artistas têm suas obras reunidas por uma musa inspiradora comum: Porto Alegre. São eles que assinam a atual fase da exposição de longa duração Acervo em Movimento, do Margs, que opera em um modelo de rotatividade do acervo. Agora, a mostra abriga cerca de 60 trabalhos alusivos à capital dos gaúchos feitos por nomes de diferentes gerações, como Libindo Ferrás, Aldo Locatelli, José Lutzenberger, Maristela Salvatori e Xadalu.
— Com a estratégia de rotatividade das obras expostas, as substituições geram recombinações que procuram propor novos diálogos e chaves de compreensão, oferecendo ao público uma exposição sempre viva e dinâmica, que aposta na experiência mais do que nos discursos, e na descoberta mais do que nas verdades. Nesta nova versão, a novidade, além do tema em si da cidade de Porto Alegre, é que estamos trazendo algumas obras que estiveram presentes em meses recentes em outras exposições do Museu, e que agora são apresentadas novamente, porém em novos contextos propostos quanto a relações visuais, conceituais, históricas e discursivas — destaca o diretor-curador do Margs, Francisco Dalcol.
Compondo um conjunto diverso em pintura, gravura, escultura, desenho, fotografia, vídeo e performance, em um arco temporal que vai de 1918 a 2016, a exposição oferece um percurso pela Porto Alegre do passado e do presente. O objetivo, mais do que parabenizar a Capital, é convidar o público a constituir seus próprios caminhos interpretativos, estabelecendo os encontros, as relações e as conexões entre as obras e a história da cidade.
- Em cartaz no Margs (Praça da Alfândega, s/n°)
- Visitação de terça a domingo, das 10h às 19h (último acesso às 18h30min), por tempo indeterminado
- Acesso gratuito