Trazendo a natureza para o âmbito da arte contemporânea, Mauro Fuke inaugura a mostra individual O Rio, a Nuvem, o Arquipélago e a Árvore nesta terça-feira (4) no Instituto Ling (Rua João Caetano, 440), em Porto Alegre. Na abertura da exposição, que ficará em cartaz até o dia 30 de dezembro, o artista gaúcho e a curadora Neiva Bohns participam de uma conversa a partir das 19h, que poderá ser acompanhada online mediante inscrição prévia pelo site institutoling.org.br (os ingressos para a versão presencial já estão esgotados). As visitações à mostra ocorrem de segunda a sábado, das 10h30min às 20h, e as visitas mediadas podem ser agendadas no site do centro cultural. A entrada é gratuita.
Longe de propor uma mimetização, as quatro esculturas em madeira têm toques abstratos, mas não aleatórios. Em verdade, expõem a preocupação do artista em usar a proporção áurea – conceito matemático empregado na arte desde a antiguidade –, especialmente no caso das obras Nuvem e Arquipélago.
– Trata-se de pensar como imagino esses elementos naturais, como defini uma ordem para desenvolvê-los. Uma das coisas que tu achas de imediato na história da arte é a proporção áurea, que é um número que se acha muito na natureza, em conchas, em animais – explica o artista porto-alegrense.
Une-se às obras expostas um vídeo mostrando a rotina do artista em seu ateliê localizado em Eldorado do Sul. Assinada por Caio Amon, a produção, sem qualquer diálogo, pretende descrever a gestualidade do artista e seu cotidiano esculpindo.
– Apesar de ser um artista contemporâneo, Mauro faz questão de manter práticas artísticas milenares. E fica ainda mais interessante quando ele associa o repertório da arte ocidental à cultura oriental, porque ele é de origem nipônica. O trabalho dele é uma concentração de saberes: o erudito, de uma pessoa que lê muito, e o popular – destaca Neiva.
Inicialmente, a ideia era que a mostra abrisse as portas em 2020, mas a pandemia obrigou o artista a adiar seus planos. Ela chega ao público menos de um mês após Mauro ter completado 60 anos de idade – e foi, inclusive, esse atraso que o permitiu incluir Árvore na exposição.
Entrevista:
"Produzimos pelo amor à arte”
Como a relação com suas obras mudou ao longo desses 40 anos de carreira?
No início, não dominava muito bem a madeira, foi intuitivo. Me descobri muito capaz de fazer as coisas, o que foi também uma surpresa para mim. Em seguida, tive interesse pela proporção áurea, teoria do caos e, depois, computação gráfica. Passei três anos atrás da tela do computador só pensando em 3D, não achava mais graça em esculpir. Tive que repensar meu processo de fazer esculturas. Depois de uns 10 anos, consegui um equilíbrio.
Por que você optou por manter a discrição em seus anos iniciais como artista?
Minha primeira exposição em galeria foi em 1983 na Galeria Tina Presser, hoje Tina Zap-
poli. Naquela época, o mercado da arte estava efervescente em busca da nova geração de artistas. Quando se é muito jovem e tem procura do mercado querendo comprar toda sua produção… Fiquei meio assustado. A maior parte dos artistas é amadora, produzimos pelo amor à arte, não pensamos se isso vai pagar as contas no final do mês.
Arrepende-se de ter tomado essa posição?
Não me arrependo. Me deu uma calma de poder pensar nos trabalhos, que podem demorar até três meses. E pensando na tua produção de um jeito amador, a preocupação financeira não entra no teu processo. Chegar com a peça pronta e negociar valores... Acho que não é justo com a minha criação artística. Seria o ideal se eu tivesse esse caráter mais profissional na minha abordagem da minha carreira, mas não é meu caso.
Serviço:
Mauro Fuke no Ling:
Abertura na terça-feira (4) , às 19h, com conversa de Mauro Fuke com a curadora Neiva Bohns. Os ingressos presenciais para o evento estão esgotados. É possível acompanhar online, mediante inscrição prévia no site institutoling.org.br.
Visitas sem mediação: de segunda a sábado, das 10h30min às 20h.
Visitas com mediação: sextas e sábados, às 16h e às 18h (mediante agendamento prévio no site do centro cultural). Até 30 de dezembro.
A galeria do Instituto Ling fica na Rua João Caetano, 440, em Porto Alegre.
Entrada gratuita.