Foi em abril que o Atelier Livre Xico Stockinger completou 60 anos de existência. E, naquele mesmo mês, estava prevista uma grande exposição sobre o espaço cultural de Porto Alegre. Porém, com a pandemia ainda em alta e uma baixa taxa de imunização, a comemoração foi adiada, mas não cancelada. Agora, com a situação sanitária mais estabilizada e seguindo protocolos, a celebração pôde encontrar o público e, este, boa parte da história da arte no Rio Grande do Sul. E não apenas em um, mas em dois locais.
Localizado no Centro Municipal de Cultura de Porto Alegre (Avenida Erico Veríssimo, 307), o Atelier Livre Xico Stockinger, mantido pela prefeitura, comemora as suas seis décadas de existência em outros importantes recantos culturais da Capital, ambos no Centro Histórico: na Galeria e Espaço Cultural Duque (Rua Duque de Caxias, 649) e na Pinacoteca Aldo Locatelli (Paço dos Açorianos - Praça Montevidéu, 10).
No primeiro local, acontece a exposição 60 Anos de Atelier Livre, que ocupa os seus quatro andares. A mostra, que tem curadoria dos professores Daisy Viola e José Francisco Alves, celebra o passado e o presente, por meio de obras de diversas gerações que passaram pelo espaço voltado a desenvolver artistas na cidade. Já o segundo endereço abriga a mostra 60 Anos no Futuro: Atelier Livre e o Artista-Professor, também reunindo trabalhos artísticos para homenagear artistas, professores, colaboradores, funcionários e alunos do lugar que carrega o nome de Xico Stockinger desde 2012.
— Dezenas de artistas que fizeram parte da história do Atelier Livre e que conquistaram uma carreira profissional, que é o objetivo do espaço, terão as suas obras expostas como forma de homenagem a este lugar que lançou grandes nomes não só para o Estado, mas também para o Brasil. E segue propiciando a produção artística, mesmo neste período delicado — destaca Alves.
Na Galeria Duque
Inaugurada neste sábado (2), a exposição vai até 20 de novembro e, além de comemorar as seis décadas do Atelier Livre, ainda integra as ações de comemoração pelos nove anos da Galeria Duque, que serão celebrados em novembro. A mostra resgata, em imagens, a história do centro cultural que atravessa gerações, integrando mestres e artistas gaúchos que ainda estão dando os seus primeiros passos, com foco no desenvolvimento e não na formação de novos talentos.
A exibição ocupa os quatro andares da galeria que fica na Rua Duque de Caxias, porém ela é dividida: os dois primeiros andares são destinados a apresentar obras de artistas que fizeram parte da história dos primeiros anos do Atelier, da década de 1960 até os anos 1990, com trabalhos que integram o acervo da Galeria Duque, selecionados a partir da curadoria de José Francisco Alves. Obras de Xico Stockinger, Vasco Prado, Danúbio Gonçalves, Iberê Camargo, Zoravia Bettiol, entre outros, podem ser vistas lá.
Já o terceiro andar do espaço apresentará a produção das gerações mais recentes do Atelier Livre, a partir de 1991, buscando destacar o vigor dos jovens artistas na busca pela profissionalização. O último segmento do local, o quarto andar, por sua vez, abrigará uma homenagem ao artista e professor Wilson Cavalcanti, o Cava, com exposição somente de alunos dele. O artista atravessou a história do Atelier, tendo iniciado como aluno e se aposentado como professor há poucos meses.
— Boa parte da história da arte do Rio Grande do Sul está nesta exposição. Tenho certeza de que as pessoas vão ficar surpresas, pois o espaço é amplo e seguro. Para mim, que passei 25 anos da minha vida no Atelier Livre, é emocionante fazer parte disso e ver toda essa história sendo mostrada — enfatiza Daisy Viola.
A exposição pode ser visitada de segunda a sexta-feira, das 10h às 18h. Aos sábados, o horário é das 11h às 17h. A entrada é franca.
Na Pinacoteca Aldo Locatelli
A mostra, organizada pela Secretaria Municipal da Cultura, através da Coordenação de Artes Visuais e do Atelier Livre Xico Stockinger, inaugurou no dia 30 de setembro contando exclusivamente com obras do acervo da Pinacoteca Aldo Locatelli. A exposição tem como recorte o trabalho desenvolvido por 35 dos artistas-professores que passaram pelo centro cultural ao longo dos anos, desde seus fundadores até os mestres atuais.
As obras expostas contam com técnicas variadas e temáticas diferenciadas, mas que ajudam a recontar os 60 anos do Atelier Livre, com o objetivo de oferecer aos visitantes uma visão de que a arte é sempre atual.
— É uma homenagem que reforça a importância do Atelier Livre como um espaço de arte, realizando a mostra com várias mídias que estão no acervo da Pinacoteca — explica José Francisco Alves, que integra a exposição como artista.
Sua colega Daisy Viola, que também tem suas obras exibidas na mostra, complementa:
— Está linda a exposição, mostrando este detalhe do Atelier Livre de que todos os professores também são artistas.
A exposição segue até 25 de fevereiro de 2022, de segunda a sexta-feira, das 9h às 12h e das 13h30min às 17h. A visitação ocorre, preferencialmente, por agendamento via e-mail acervo@portoalegre.rs.gov.br ou telefone (51) 3289-3735.
Hoje
A fundação do Atelier Livre se deu em abril de 1961, após o pintor Iberê Camargo demonstrar, no ano anterior, a partir de um curso de arte, que a cidade teria potencial para contar com um espaço de arte aberto para a formação de novos talentos. Coube, então, ao crítico de arte Carlos Scarinci e ao escultor Xico Stockinger a tarefa de concretizar a escola pública de artes. E, em seus primeiros 30 anos, segundo José Francisco Alves, o local ganhou um status de muita importância e investimentos - Inclusive um concurso público, em 1994, para novos professores. Mas as últimas décadas não contam mais com a glória de outrora.
— Neste século, a situação começou a decair. Chegamos em um momento delicado. Já tivemos em nosso quadro, por exemplo, 22 professores fixos, concursados. Agora, temos apenas quatro. Vemos a nossa estrutura sendo depreciada, e a arte perdendo cada vez mais espaço. Essa é, sem dúvidas, a maior das crises dos 60 anos do Atelier Livre — destaca Alves, professor e ex-diretor do Atelier Livre.
O concurso público ocorrido nos anos 1990, tão celebrado à época, foi o último realizado. De lá para cá, os professores mais antigos foram se aposentando, o quadro enxugando e as vagas não sendo repostas. Em 2010, quando Daisy Viola ocupava a direção do espaço, foi solicitada por ela a abertura de um novo certame, que até hoje não foi realizado.
— É um momento de resistência. A gente está esperando passar a tempestade. A gestão passada da prefeitura, inclusive, chegou a lançar o edital de contratualização do Atelier, mas se formou um grupo de resistência por parte dos alunos e eles acabaram conseguindo que não houvesse a privatização. Essa nova gestão, agora, resgatou a possibilidade de fazermos um novo concurso e, assim, recompor o quadro. Estamos nos movimentando — explica Daisy.
Atualmente, o Atelier Livre Xico Stockinger ainda está atuando de maneira virtual. E, dentro das comemorações de seus 60 anos, cursos voltados à produção artística estão sendo oferecidos de maneira online. Interessados podem saber mais no site.