Zoravia Bettiol (*)
Revendo a recente história do Brasil, pode-se constatar a presença de indigenistas comprometidos com os povos indígenas brasileiros e com a manutenção e preservação da nossa fauna e flora.
A coerência da ação e da filosofia do marechal Cândido Rondon (1865-1958) foi realmente exemplar: “Morrer se preciso for, matar nunca!”. Em 1913, Rondon teve a incumbência de criar as linhas telegráficas na região em que operava, conseguindo assim estabelecer contato e promover benefícios para a comunicação e preservação dos povos indígenas.
No final do século 20, Chico Mendes (1944-1988), seringueiro analfabeto, absorveu os ensinamentos de Euclides Távora e acabou criando um sindicato. Logo em seu princípio, o sindicato já tinha força política para se defender contra os grileiros e mineradores que eram apoiados pelo governo federal. Mendes chegou a ser eleito deputado federal. Recebeu, em 1987, o prêmio Global 500 da ONU. Foi assassinado por grileiros, no Acre. Quase 20 anos depois, a Irmã Dorothy Stang, ativista estadunidense que defendia os direitos indígenas, também foi assassinada, no Pará.
Também é importante ressaltar significativas figuras indígenas que ajudam a conscientizar e defender os direitos das tribos brasileiras. Raoni, 91 anos, cacique reconhecido internacionalmente por sua luta pela preservação da Amazônia, realizou em 1989 uma excursão por 17 países, sendo mais tarde recebido pelo Papa Francisco. A ativista Sônia Guajajara já levou denúncias às Conferências Mundiais do Clima (COP) e ao Parlamento Europeu.
Há diversos escritores indígenas que difundem e preservam as histórias e a cultura de suas tribos através da literatura e ganham cada vez mais destaque. Julia Dorrico estimou que existem 57 autores. Dentre eles, estão Eliane Potiguara, representante do Brasil na conferência da ONU de 1995 intitulada Histórias Não-Contadas; Airton Kranak, autor de best-sellers mundiais e distinguido como intelectual do ano pelo prêmio Juca Pato; e Daniel Munduruku, cotado para vaga na ABL.
O engajado fotógrafo ambientalista Sebastião Salgado liderou um movimento internacional que culminou com um manifesto às instituições brasileiras e ao governo Bolsonaro para que a destruição da Amazônia tenha fim. Infelizmente, Bolsonaro nem deu importância. Seu governo é criminoso e sua ignorância não tem limites! A culminância desse retrocesso ocorreu durante o período do ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, de 2019 a 2021. É lamentável constatar que a quase totalidade dos nossos governantes são ignorantes em ambientalismo e, muitas vezes, coniventes com a destruição ocasionada por grileiros, madeireiros e mineradores.
Sempre me chamou atenção a cultura e os costumes dos povos indígenas, especialmente a cerâmica, a pintura corporal, os coloridos acessórios de arte plumária e as miçangas. Realizei a série Indígena, que são formas tridimensionais tecidas, e também participei da instalação Me Dejas Loco, America!, abordando o tema da destruição do bioma amazônico. Também me referi à Amazônia na série de desenhos Verde que te Quiero Verde.
Hoje, continuo engajada. Participo, a convite da Aliança Francesa de Porto Alegre, do projeto Debate de Ideias Arte pela Amazônia (leia mais abaixo). O Instituto Zoravia Bettiol está realizando a exposição virtual Amazônia Index 2021, com curadoria de Ben Berardi. Planejamos também a mostra coletiva Amazônia: Contradições e Contrastes, para março ou abril de 2022.
(*) Artista plástica, designer e arte-educadora
O debate
- Em 5/9, Dia da Amazônia, a jornalista Katia Suman vai mediar um debate organizado em parceria pela Aliança Francesa de Porto Alegre, pela TVE e pela FM Cultura.
- Participam a artista indígena Daiara Tukano e a artista plástica Zoravia Bettiol, vozes em favor da preservação dos recursos naturais e contra a exploração, o desmatamento e a poluição.
- O evento está marcado para as 19h30min, com transmissão pela TVE e pelo canal da Aliança Francesa no YouTube.