A nova exposição da Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre, convida para um debate social de forma nada explícita. Assinada pelo artista visual Daniel Melim, um dos principais nomes da street art do Brasil, Reconstrução tem início neste sábado (7) e leva o contraste entre os extremos em suas 12 obras, expostas no quarto andar e com curadoria de Miguel Chaia e auxílio de Baixo Ribeiro e Laura Rago.
— A discussão tem a ver com a estrutura da nossa sociedade, e cada aspecto da obra fala sobre diferentes aspectos dela. Há um contraponto entre faixas, manchas maiores e menores em outras áreas, por exemplo, que nos ajudam a pensar sobre opressão e até mesmo política — adianta Melim.
As telas são produções recentes do artista de 41 anos, sendo a mais antiga de 2017. Conhecido por seus painéis nas paredes de grandes prédios, a produção artística do paulista adequou-se à arquitetura da Fundação – uma das telas tem quase nove metros de comprimento.
Melim reconhece que ver seus trabalhos nas paredes de um museu ou nas ruas é bem diferente.
— O espaço aqui é monumental e ajudou a chegar em um meio termo, porque não é em qualquer galeria que consigo explorar uma tela gigante. A minha pesquisa, como um todo, acaba sendo entender a rua, a cidade, e produzir uma leitura no espaço fechado. No fim, os dois se complementam — diz.
Urbano
Foram os muros ao redor de uma pista de skate de São Bernardo do Campo (SP), sua terra natal, que despertaram Melim para a street art, aos 13 anos. O estêncil, técnica da arte de rua que predominava naquele espaço, o deixou curioso, e seu primeiro trabalho como metalúrgico, na região do ABC paulista, o aproximou de pessoas que faziam grafite.
Ainda no início da carreira, formou-se em Educação Artística pelas Faculdades Integradas Teresa D'Ávila (FATEA), no interior de São Paulo. Pouco tempo depois, integrou um grupo de intervenção artística.
— Cada um deles do chamado Crew "Ducontra" pontuava um aspecto, indo do mais técnico até aquele que tinha uma visão mais global das obras. Essa mistura acabou se espelhando na minha produção — explica Melim.
Um dos seus trabalhos, chamado de Mural da Luz, é o retrato de uma moça loira de batom vermelho com 33m x 25m e ocupa a lateral de um prédio nas redondezas da Pinacoteca de São Paulo, na Avenida Prestes Maia. Em 2013, a peça foi eleita como o mural mais representativo da cidade.
Exposição "Reconstrução", de Daniel Melim
- Fundação Iberê Camargo (Avenida Padre Cacique, 2.000), em Porto Alegre.
- De 7 de agosto a 31 de outubro.
- Visitação de sexta a domingo, das 14h às 18h. Capacidade: 24 pessoas por horário. Duração média da visitação: 30 minutos.
- Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia, válida para estudantes, profissionais da saúde e idosos a partir de 65 anos); R$ 30 (pacote para duas pessoas); R$ 40 (para duas pessoas, com catálogo da exposição).
- Visitação mediante agendamento prévio e vendas de ingressos pelo Sympla.
- Nas quintas, das 14h às 18h, a Iberê Camargo abre as portas gratuitamente ao público, sem necessidade de agendamento prévio, respeitando a lotação máxima do espaço.