Aural Aurea, (((O))), Ashram ou apenas Pinga. O artista Emerson Pingarilho (1976 – 2017) adotava pseudônimos para dar vazão a uma criatividade prolífica que expressava em desenhos, gravuras, pinturas, vídeo, webarte, música experimental e pesquisa acadêmica. A vontade de ser muitos, transitando entre linguagens distintas, fazia dele um "outsider" e um mistério até para os amigos.
– Ele construía um conceito, fazia uma produção em torno dele e depois partia para outro, num movimento fluido, como uma onda – reflete o produtor musical Mancha.
– É o mesmo mar, com picos criativos – completa o artista Bruno Novelli.
No mar de Pingarilho, uma das constantes era o uso de símbolos – apropriava-se de imagens como martelos, triângulos e águias, que remetem ao imaginário do ocultismo, da arte indígena e da propaganda soviética. O desejo de abrir uma janela para esse universo particular motivou um grupo de artistas e amigos que, além de Mancha e Novelli, inclui o artista visual Cauê Ueda e o escritor Daniel Pellizzari, a organizar a exposição BUSCA: Visões de Emerson Pingarilho, que tem inauguração nesta terça-feira (6/3), no Museu do Trabalho, em Porto Alegre.
A proposta da mostra é celebrar a obra do artista, que nasceu em Canoas, em 1976, e morreu em São Paulo, em julho de 2017, aos 40 anos. Após oito meses de luto por Pingarilho, que decidiu dar fim à própria vida, seus amigos fizeram questão de abrir a primeira mostra póstuma em Porto Alegre, onde ele deu os primeiros passos como artista, no Upgrade do Macaco, importante coletivo que contava com nomes como Guilherme Pilla, Geraldo Tavares, Carla Barth e Novelli (9li). A partir de 2007, Pingarilho construiu uma carreira em São Paulo, onde fez mestrado em Psicologia, iniciou doutorado em Semiótica e Comunicação, realizou exposições e assinou curadorias, como a da mostra MitoVideos (2014), no MIS-SP. Fundou ainda os selos Aural Records e Factus Records.
BUSCA: Visões de Emerson Pingarilho conta com 12 pinturas e serigrafias, 20 vídeos, dois desenhos em nanquim e um fanzine. Coube a Novelli selecionar as pinturas – marcadas por cores vibrantes.
– Ele era ligado ao grafismo indígena, que transformava em algo ritualístico e urbano – comenta.
Esse interesse pelo ritualístico o aproximou da célebre artista Marina Abramovic, que o visitou quando esteve no Brasil. Em uma das telas à mostra, a enigmática e irreverente Defide (2011), Pingarilho pinta a artista nua ao lado da imagem de um alce e da fachada da Fundação Iberê Camargo.
Em uma sala separada, que guarda obras em preto e branco, chama a atenção uma pintura inacabada.
– Dá para ver todo o processo dele aqui, é um trabalho que tem muita presença – aponta Novelli, refazendo os gestos do amigo.
– Essa mostra é sobre o legado dele, não é sobre a sua ausência – reforça Mancha.
BUSCA: Visões de Emerson Pingarilho
- Abertura terça-feira (6/3), às 19h
- Visitação de terças a sábados, das 13h30min às 18h30min, e domingos e feriados, das 14h às 18h30min. A partir desta quarta-feira (7/3) até 15 de abril.
- Museu do Trabalho (Rua dos Andradas, 230), no Centro Histórico, em Porto Alegre
- Mais informações: (51) 3227-5196 ou museudotrabalho.org