Começou como uma solução barata para fazer maquetes. André Venzon era estudante de arquitetura quando descobriu o potencial do tapume:
– É a primeira camada da nova construção, está nas entranhas do edifício. Vi que tinha muita potência simbólica e que, ao usá-lo em maquetes, eu poderia criticar certo tipo de arquitetura – lembra.
Quando abandonou a arquitetura pelas artes visuais, em 2003, Venzon levou o material consigo. Tornou-se o artista dos tapumes e de sua característica cor magenta, que o "atraiu feito uma abelha". Depois das maquetes, utilizou-o em esculturas, objetos, intervenções urbanas, performances e até naquilo que não costuma ser arte – a moldura e o cubo branco – neste caso, rosa. O tapume foi somando sentidos:
– É barreira que oculta, mas também convite, como a nossa própria pele. De um lado, estamos, e o outro só imaginamos.
Na exposição MUDANÇAS - Este É o Nosso Lugar, que será inaugurada nesta quinta-feira (1º de fevereiro), às 19h, na Galeria João Fahrion do Margs, o curador Francisco Dalcol olha para a produção fotográfica em torno dos tapumes de Venzon. Com cerca de 50 trabalhos, a mostra chega a Porto Alegre depois de percorrer sete cidades do Interior do RS desde 2015 (Caxias do Sul, Gramado, Pelotas, Bagé, Bento Gonçalves, Passo Fundo e Santa Maria). Nesta edição, foi atualizada com obras recentes – desenvolvidas pelo artista no âmbito do mestrado em poéticas visuais na UFRGS –, que somaram-se a trabalhos dos anos 2000.
Destacam-se duas grandes séries: Fechamentos e Cidade Sem Face. A primeira é composta por fotografias de tapumes em várias cidades. Em Porto Alegre, elas documentaram transformações importantes – da reforma da Pinacoteca Ruben Berta à polêmica demolição das seis casas da década de 1930, na Rua Luciana de Abreu, em dezembro de 2016.
– O tapume se impõe na paisagem e esconde o que está em transformação. É um índice dessa transformação – diz Dalcol.
– É difícil desafiar essa realidade, porque vai além da arte, é um conjunto de problemas. Mas eu me sinto desafiado a documentar isso – diz Venzon.
Muitas das fotos são do 4º Distrito, onde funciona o ateliê do artista (Rua Leopoldo Froes, 126), que ficará aberto ao público durante a mostra no Margs, até 11 de março. Ao fim do seu mestrado, Venzon planeja uma intervenção nas ruas da região que será um comentário sobre as mudanças pelas quais passou nos últimos 12 anos.
Outra série muito presente na mostra é Cidade Sem Face. Em parceria com o fotógrafo Igor Sperotto, Venzon pediu que pessoas escolhessem um lugar com o qual se identificassem, mas anulassem seu próprio rosto colocando um cubo na cabeça. O objeto, aliás, estará na exposição para ser vestido.
– Às vezes, a gente tem que deixar de ver para ver de outro jeito – interpreta o curador.
MUDANÇAS - Este É o Nosso Lugar
- Exposição de André Venzon.
- Curadoria de Francisco Dalcol.
- Abertura nesta quinta-feira (1º de fevereiro de 2018).
- Galeria João Fahrion do Margs (Praça da Alfândega, s/nº).
- Visitação de terças a domingos, inclusive feriados, das 10h às 19h, de 2 de fevereiro a 11 de março de 2018.
- Entrada Franca.