Das figuras humanas às paisagens vazias, da cor ao preto e branco, da fotografia à gravura. A trajetória de Maristela Salvatori ganha um resumo com a exposição Terramarear, que tem abertura nesta terça-feira (19/12), às 19h, no Margs.
A mostra lança uma visão panorâmica aos últimos 30 anos de carreira da artista e professora do Instituto de Artes da UFRGS (IA) – período no qual expôs no Brasil e no Exterior e foi reconhecida pela pesquisa com processos da gravura. Ao lado da historiadora, crítica de arte e curadora Paula Ramos, a artista elegeu aproximadamente cem trabalhos desse período para levar à Pinacoteca do térreo do Margs. Organizada em ordem cronológica, Terramarear parte de gravuras em metal dos anos 1980 baseadas em fotos de familiares e amigos no Litoral. Da década seguinte, a curadora destaca a importância da série Viagem de Rio (1993):
– São obras resultantes de uma viagem que a Maristela fez a bordo de uma "chata" pelo Rio São Francisco. Partindo de fotografias, a artista diminuiu drasticamente a figura humana, a ponto de, em várias imagens, eliminá-la. Permaneceram as formas alongadas e quase arquitetônicas da "chata", em diálogo com a paisagem. Essa série abre questões novas para a artista, como o uso de perspectiva, a limpeza formal e a ênfase na representação do espaço, frequentemente agigantado – analisa Paula.
Na mostra, a série estabelece uma ponte entre as obras antigas e cenas hoje associadas a Maristela: construções monumentais reduzidas a grandes planos e linhas arquitetônicas, em preto e branco. Geralmente são gravuras derivadas de fotografias feitas em viagem ou apropriadas de terceiros e manifestam o fascínio da artista pelo que chama de "espaços impessoais da supermodernidade".
– Lugares como portos, cais, estações de trem me atraem muito pelo aspecto de imensidão e também por seu quinhão de solidão própria ao anonimato e a impessoalidade. Como a curadora destaca, penso que esta atração está ligada a meu imaginário de criança, em que a percepção superdimensiona o espaço – comenta Maristela.
O título Terramarear alude a esses espaços, que viram objeto de experimentos com recursos técnicos da foto e da gravura. A investigação é parte essencial da poética de Maristela, aponta a curadora:
– Maristela é uma artista-pesquisadora. Não se acomoda no conhecido, mas desdobra aspectos, questões, formas. Tu olhas para um trabalho dos anos 1990 e para um atual e tu identificas a poética da artista claramente. Todavia, eles vão problematizando o próprio processo, as próprias etapas.
Terramarear
- De Maristela Salvatori.
- Curadoria de Paula Ramos.
- Abertura terça-feira (19/12), às 19h.
- Visitação de terças a domingos, das 10h às 19h, a partir de amanhã até 11 de março de 2018. Entrada gratuita.
- Margs (Praça da Alfândega, s/nº).
- A exposição: apresenta cerca de cem trabalhos desenvolvidos por Maristela Salvatori ao longo dos últimos 30 anos.