Aos proprietários de grandes coleções de arte convém manter a discrição. O empresário gaúcho Oscar Cardoso Saraiva (1905 - 1986) prezava tanto por isso que seu acervo de 147 obras jamais foi exposto, permanecendo fora do radar até de especialistas. O curador e diretor do Margs, Paulo Amaral, soube do tesouro por acaso, há cerca de dois anos:
– Um dia passei na frente de uma casa com um amigo e comentei como a achava linda. Então, ele disse: "tu tens que ver a coleção que tem lá dentro!".
Amaral procurou Antônio Saraiva, atual proprietário da coleção construída pelo avô, Oscar, e marcou uma visita. Na residência, encontrou uma espécie de museu privado com obras de grandes nomes, como Aldo Locatelli, João Fahrion, José Sicart, Angelo Guido, Francis Pelichek, Oswaldo Teixeira do Amaral, Leopoldo Gotuzzo, Yoshiya Takaoka, Aurélio D'Alincourt, Oscar Tecídio e outros tantos.
– É uma coleção de pintores muito conhecidos. O fato de estar toda em uma casa e ninguém ter visto... Precisava ser exposta – lembra Amaral, que se propôs a assumir a curadoria.
O herdeiro de Saraiva concordou, iniciando a organização de um catálogo (que está à venda na livraria do museu a R$ 70, com lucros revertidos para a Associação dos Amigos do Margs) e o restauro das obras. Todas elas podem ser vistas a partir desta quarta-feira (13/12) até 1º de fevereiro na exposição Coleção Oscar Cardoso Saraiva. Couberam em apenas uma galeria do museu, pois o acervo é composto quase totalmente por pequenos quadros. Realizados entre 1920 e 1970, os quadros contemplam gêneros clássicos da arte – como naturezas-mortas, paisagens, retratos e nus – e puderam ser reunidos por núcleos temáticos nas paredes da galeria.
Ao percorrer a mostra, é fácil imaginar que se está na casa do colecionador, porque Saraiva, mais do que comprar arte, era um mecenas à moda antiga. Fazia questão de conviver com os artistas e costumava ajudá-los financeiramente. Em retribuição, muitos o presenteavam com estudos, pincéis assinados e até pinturas feitas em paletas – a exposição traz 63. São itens sem grande valor de mercado que, no entanto, dão um tom intimista à mostra.
– Algumas paletas têm um acabamento tão bom que não dá para chamar de estudos – afirma Amaral, apontando para uma que traz uma imagem de Cristo crucificado pintada por Aldo Locatelli.
Entre as curiosidades, há também um conjunto de 13 conchas com cenas pintadas em seu interior. São lembranças de artistas que se hospedavam na casa de praia de Saraiva, em Torres, e abrem uma janela afetiva para a vida do colecionador.
Coleção Oscar Cardoso Saraiva
- Curadoria de Paulo Amaral
- Abertura nesta terça-feira (12/12), às 19h
- Margs (Praça da Alfândega, s/nº)
- Visitação de terças a domingos, das 10h às 19h, a partir de quarta-feira (13/12) até 1º de fevereiro de 2018
- Entrada franca