Porto Alegre voltou ao noticiário internacional nesta semana. Se, no início dos anos 2000, a capital gaúcha havia ganhado projeção com os movimentos de esquerda no Fórum Social Mundial, agora o destaque se deu pela mobilização da direita. Após três dias de uma intensa campanha nas redes sociais, liderada pelo MBL, o Santander Cultural cedeu às pressões e cancelou no domingo a mostra Queermuseu. Os detratores viram apologia à pedofilia, incentivo à intolerância religiosa e promoção da zoofilia em meio às 270 obras com temática LGBT.
Mas será que as paredes do prédio expunham todos esses crimes? ZH investigou as três obras mais controversas e mostrou o que há por trás delas: discussão sobre sexualidade, críticas ao processo de colonização do país e condenação aos abusos sexuais contra crianças. O promotor Júlio Almeida visitou o local e confirmou: "Não há pedofilia".
Diante desse quadro, jornalistas retomaram a discussão sobre o que é arte e artistas em peso se manifestaram contra o fechamento da exposição por entendê-la como um ataque à liberdade de expressão, um dos pilares da democracia. Só que os argumentos não convenceram os críticos do Queermuseu. Para eles, uma exposição como esta jamais poderia ter usado dinheiro público. O Santander anunciou a devolução de R$ 800 mil de leis de incentivo à cultura usados para promover a mostra.
Os ânimos acirrados desembocaram em violência. Um protesto do movimento LGBT contra o cancelamento da exposição também atraiu integrantes da direita. Resultado: troca de agressões entre os dois grupos e intervenção da Brigada Militar com bombas de efeito moral. Sobrou até para jornalistas que faziam cobertura da manifestação.
Confira abaixo análises e artigos sobre a polêmica exposição:
Cláudia Laitano: O nosso 11 de setembro
Foi nesse dia que Porto Alegre virou notícia mundial por conta de uma exposição de arte cancelada. A cidade passou a última semana envolta em uma cortina de fumaça tóxica
Cláudio Brito: Exposição Queermuseu não era ilegal
O Ministério Público conferiu o acervo da exposição de arte que o reacionarismo e o preconceito impediram. Nenhuma ilegalidade encontrada.
Júlia Alves: É preocupante um museu fechar as portas diante de reações adversas
Encerramento antecipado da exposição "Queermuseu", no Santander Cultural, foi motivada por críticas em redes sociais
Tulio Milman: Arte e covardia
É democrático e legítimo que o MBL e seja lá que for não considerem a exposição do Santander uma exposição de arte. O que não é democrático é impedir que outros considerem.
David Coimbra: A arte proibida do Santander
Como Coubert, muito do que foi ultraje antes é clássico agora. Entenda: "Não existem razões erradas para se gostar de uma obra de arte; existem razões erradas para NÃO se gostar de uma obra de arte".
Mateus Colombo Mendes: Viva à censura!
A ideia de que "é proibido proibir" e de que não se deve censurar nada é uma arma pérfida
VÍDEO: Luciano Potter comenta obras polêmicas da mostra "Queermuseu"
Colunista de ZH comenta polêmica acerca do encerramento da exposição que recebeu acusações de promover blasfêmia contra símbolos católicos e conter obras que faziam referência à pedofilia e à zoofilia
Paulo Germano: Da esquerda à direita, são todos autoritários
Eles sempre têm "motivos nobres" para calar quem odeiam. Para alguns, o motivo nobre são os bons costumes; para outros, é a igualdade de gênero
Humberto Trezzi: Sobre abuso de autoridade
Fotógrafa de Zero Hora foi agredida por PM enquanto cobria manifestações contra o fechamento da exposição "Queermuseu" no Santander Cultural
Rosane Oliveira: Projeto prevê classificação indicativa de idade em exposições
Na carona da polêmica envolvendo a exposição Queermuseu, no Santander Cultural, o deputado protocolou proposta que institui classificação indicativa em mostras, exibições de arte e eventos culturais no Rio Grande do Sul
David Coimbra: Temos que olhar para a arte até quando não gostamos
A grande arte ultrapassa limites, rompe com os paradigmas, é questionadora e faz com que o mundo evolua
Mônica Leal: Diferenças controversas
Aqueles que lutam pela aceitação das diferenças são os que menos aceitam quem pensa diferente