Pense em uma celebridade brasileira. As chances são de que Bob Wolfenson já tenha feito seu retrato. Passaram diante de suas lentes Chico Buarque, Rita Lee, Fernanda Torres, Lázaro Ramos, Gisele Bündchen, Fernanda Lima e muitos outros. O paulistano de 63 anos se consagrou como um dos maiores fotógrafos de moda do país colaborando com revistas como Vogue, Elle e Harper's Bazaar, além de Playboy, Rolling Stone e S/N (criada por ele mesmo). Suas fotos estão em importantes acervos, como o do Itaú Cultural, MAC-USP e a Coleção Pirelli-MASP. Em 2017, seu trabalho autoral Nósoutros circulou por festivais ao redor do mundo. Antes de viajar a Porto Alegre, onde ministra uma masterclass neste sábado (29/7), no hotel Plaza São Rafael, o fotógrafo falou com Zero Hora.
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O que é importante na hora de fazer um retrato bem-sucedido?
O retrato obedece à natureza dos encontros, há um aspecto de imponderabilidade e outro de controle e rigor. O mais importante é a confiança entre o fotógrafo e o retratado.
Há uma celebridade em especial que você goste de fotografar?
Muitas: Gisele, Juliana Paes, Tais Araújo, Wagner Moura, Neymar, Pelé, Caetano, Chico, Sophie Charlotte. Elas me fascinam e também confiam e se deixam levar.
Você fotografa as maiores beldades do país nuas. Como se dão esses encontros?Entendo a mitologia por trás deste trabalho, mas a coisa é menos glamourosa do que se pensa. Há muito trabalho e seriedade e procuramos, todos os envolvidos, ser o mais natural possível. Obviamente, pode haver algum tipo de excitação, mas nunca é aparente nem manifesta, ao menos nos meus sets.
Cite uma referência.
Tenho muitas, mas o fotógrafo Irving Penn, que personifica como ninguém a ideia de transitar por vários interesses, é, no momento, a minha principal referência.
Recebeu algum conselho importante quando era um fotógrafo iniciante?
Recebi conselhos técnicos, o resto não se ensina. É a personalidade e algo misterioso que conferem a alguns a possibilidade de fazer algo com um certo sentido.
Ao longo da sua carreira, a relação da sociedade com a fotografia mudou bastante. Acha que as imagens têm um peso maior hoje do que no passado?
Sim, porque a fotografia virou uma escrita e, portanto, há uma comunicação imensa por meio de imagens. E não, porque há tantas imagens que ficamos cegos de tanto vê-las.
Neste momento em que todo mundo fotografa, edita e publica a sua própria foto, qual o caminho para os profissionais que desejam se destacar?
É simplesmente só ser. Mas há um paralelo que gosto de citar. Todo mundo escreve e lê no seu próprio idioma, certo? Mas quantos são escritores? O mesmo se aplica à fotografia. Todo mundo fotografa, mas quantos são artistas/fotógrafos?
Hoje em dia, os fotógrafos também são produtores de vídeo. Acha que os profissionais tem mais a ganhar ou a perder com esse acúmulo de funções?
Mais a ganhar, é uma expansão. Mas não acredito que alguém possa dar conta de uma maneira boa de muitas atividades.
Como é a sua relação com as tecnologias de manipulação da imagem?
Aderi, pois não há imagem produzida digitalmente que não precise de algum acerto. E o tratamento de imagem em grande parte emula os ajustes que se faziam nos laboratórios de fotografia analógica.
Você se preocupa com a visão idealizada do corpo da mulher que muitas fotografias de moda acabam por promover?
Sim, se houver exagero. No entanto, há um padrão de modelos, como há um padrão de atletas. Se a pessoa não estiver em forma não vai jogar bem o esporte que pratica. A mesma coisa para todas as profissões. Há uma técnica e, digamos, um perfil físico inerente a algumas atividades, e as modelos têm que vestir bem uma roupa.
Em que projetos está envolvido atualmente e que questões mais têm lhe interessado?
Acabei de fazer a exposição Nósoutros, cujo tema são as pessoas um momento antes de atravessar a rua em várias partes do mundo. Sou um ser urbano e me interessa a vida contemporânea nas metrópoles. Gosto de pensar sobre o homem neste momento tão difícil da humanidade e tentar de alguma forma transformar algo disso em um todo, um trabalho. Já havia feito isso no meu trabalho Apreensões, de 2010, e no A Caminho Do Mar, de 2007. Ambos apontam para questões do momento, uma certa selvageria tanto nas questões criminais como nas questões do desenvolvimento desenfreado. Nósoutros trata do paradoxo do pertencimento versus a afirmação da individualidade emoldurados pela contemporaneidade da arquitetura das urbes.
Tem planos para novos livros?
Estou retrabalhando meu acervo e preparo um grande livro e exposição dos meus retratos desde os anos 1970 até hoje. Talvez seja lançado neste ano ainda. Seria Bob Wolfenson – Retratos 1976 -2017 ou Retratos que um Dia Fiz. E a Terra Virgem está editando para este ano um livro sobre mulheres fotografadas por mim, desde Gisele até minha primeira namorada, passando por grandes estrelas, modelos e amigas.
Masterclass com Bob Wolfenson
Sábado (29/7), das 9h às 18h.
Sala Imbuia do Plaza São Rafael Hotel e Centro de Eventos (Avenida Alberto Bins, 514), no centro de Porto Alegre.
Inscrições: R$680. Mais informações em masterclassbobwolfenson.com.br
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