Fotografias arquitetônicas, retratos e abstrações assinados por autores com percursos completamente diferentes. A diversidade da fotografia é o mote da exposição Múltiplos olhares: 21 fotógrafos, com vernissage nesta terça, às 18h30min, nas galerias Iberê Camargo e Oscar Boeira do Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Praça da Alfândega, s./n.). A visitação vai de 4 a 29 de janeiro, de terça a domingo, das 10h às 19h. O curador Fábio André Rheinheimer se desafiou a selecionar trabalhos de 21 fotógrafos com concepções distintas do que é fotografia para depois encontrar aproximações entre as obras. Responsável pelas exposições fotográficas do Café do Margs, Rheinheimer recebe incontáveis portfólios. A nova coletiva é uma chance de exibir parte do que tem visto em um espaço maior.
– Porto Alegre é uma ilha densamente povoada por fotógrafos com potencial escondido. Eu estava angustiado para mostrar essa riqueza de produção. – conta Fábio. Dos 21 artistas selecionados, apenas dois estão no acervo do Margs, Alberto Bitar e Cibele Vieira. Os outros 19 são convidados conhecidos por atuarem em universos diversos, como publicidade (Raul Krebs, Manoel Petry), jornalismo (Julio Cordeiro, Andréa Graiz), arquitetura (Paulo Mello), artes visuais (Roberta Agostini) e até música (Bebeto Alves e Antonio Villeroy). Cada artista exibe duas, três ou quatro fotos.
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A exposição provoca o espectador a fazer suas próprias conexões entre as produções e algumas convergências saltam aos olhos. Uma longa parede reúne fotografias que tratam do corpo humano: nus, autorretratos, rostos fora de foco etc. Há seções abstratas que propõem uma reflexão sobre cor, luz e geometria. As paisagens são poucas e estão bem distantes da ideia de cartão-postal, como as assinadas por Hernando Salles e Adriano Bassegio.
Ao percorrer portfólios, Fábio procurou imagens singulares: deixou de lado as montanhas da Patagônia fotografadas por Sérgio de Paula Ramos e optou pela imagem de uma carcaça de um animal em um descampado. Registrada de um ângulo inusitado por Manoel Petry, a Torre Eiffel é um enigmático emaranhado de ferro.
– Estou propondo a zona de desconforto dos artistas, não quis mostrar o glamour de Paris, por exemplo. Vejo esta exposição como uma celebração da fotografia e das suas múltiplas possibilidades – frisa o curador.
A história da arte no Estado em 15 obras
O Margs guarda tantas obras-primas que seria possível contar a história da arte do Estado por meio de seu acervo, com mais de 4 mil itens. É nesta empreitada que o Núcleo de Curadoria se lança em 2017, com a obrigatória ressalva de que se trata de "uma história da arte do RS segundo o Margs", e não de uma narrativa definitiva. Durante todo o ano, a Galeria Aldo Locatelli abrigará sucessivas exposições que contarão capítulos desta história. A primeira abre amanhã, às 18h30min, e abrange o final do século 19 e a primeira metade do 20.
A exposição Uma possível história da arte no Rio Grande do Sul: a emergência de um sistema da arte local reúne 15 obras de artistas que foram fundamentais para a constituição de um campo da arte no Estado, partindo do princípio de que isso ocorreu apenas no século 19. Logo, estão presentes pinturas de Araújo Porto Alegre (1806 – 1879) e Pedro Weingärtner (1853 – 1929), da primeira geração de artistas gaúchos.
– Tentamos selecionar quadros pouco exibidos no museu, como Atelier Julian, do Weingärtner – pontua Carolina Bouvie Grippa, do Núcleo de Curadoria. – A excessão é Almofada amarela, de Leopoldo Gottuzzo, já que o Margs possui apenas esta pintura dele.
A narrativa segue com obras de artistas representativos do início do século 20, principalmente nomes envolvidos com a Escola de Belas Artes, criada em 1910, como Libindo Ferrás (1897 – 1951) e Benito Castañeda (1885 – 1955). Antes da instituição, hoje conhecida como Instituto de Artes da UFRGS, era necessário deixar o Estado para estudar arte. Aliás, a ausência de formação local explica os nomes estrangeiros da exposição, como o tcheco Francis Pelichek (1896-1935) e o italiano Angelo Guido (1893-1969).
Ainda que o tema não tenha sido critério de seleção, a maioria dos trabalhos exibe paisagens. A mostra é completada por documentos, como reportagens antigas, catálogos e livros. A próxima mostra não está definida, mas deve contemplar os clubes de gravura nos anos 1950.
Textos de Saint-Hilaire inspiram mostra fotográfica
A fotógrafa Rita Gnutzmann inaugura nesta segunda a exposição Genius loci da costa sul, no Bistrô do Margs. A mostra, que dá sequência à seleção dos trabalhos vencedores no Concurso de Fotografias da Associação de Amigos do Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli (AAMARGS), é resultado da incursão de Rita pela costa sul gaúcha. Na região, porta de entrada dos primeiros povos que se fixaram no Estado, a fotógrafa buscou traduzir a alma de lugares com importância histórica por meio de fotos que remetem às relações do homem com o ambiente natural. Daí o termo latino "genius loci", referente à identidade cultural e ao espírito de cada lugar.
A jornada de Rita foi orientada pelos escritos do botânico francês Auguste de Saint-Hilaire (1779 – 1853), que visitou o Rio Grande do Sul na primeira metade do século 19 e deixou relatos de sua passagem por locais como a Lagoa Mirim e a Lagoa dos Patos. Na trilha do europeu, Rita produziu fotografias que exprimem as relações ambientais e culturais intrínsecas aos sistemas lagunares e oceânicos. Genius loci da costa sul fica em cartaz até 28 de fevereiro e tem entrada franca.