Brasília está prestes a perder relíquias de artistas como Cândido Portinari, Djanira da Mota, Alberto da Veiga Guignard e Arcângelo Ianelli. Da próxima semana até o final de janeiro, 48 obras de arte devem sair do Palácio do Planalto e da Alvorada e retornar ao Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro (MnBA), espaço que já conta com mais de 70 mil itens artísticos.
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A maior parte dos trabalhos que sairão da capital federal está exposta em espaços abertos aos visitantes. As obras devem ser substituídas por itens do acervo da Presidência e do Banco Central. Em reportagem do Correio Braziliense, Rogério Carvalho, curador do Palácio da Alvorada durante quase 10 anos, afirmou que Mônica Xexéo, diretora do MnBA, "teve a pachorra de oferecer" o descarte do museu que administra em troca das peças. "Nas últimas reuniões que participei, Mônica ofereceu um Romero Britto em troca de um Eliseu Visconti", disse Carvalho.
O grupo de obras de arte, que também inclui esculturas e mobiliários dos séculos 18 e 19, foi sendo levado para Brasília em diferentes momentos a partir de 1950. Os itens são do MnBA, mas foram emprestados em um acordo que durou de 1956 a 1991, sendo prorrogado até o fim deste ano. Com o encerramento do contrato de comodato, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) autorizou, em decisão acertada pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) e pela Diretoria de Documentação Histórica (DDH) do gabinete da Presidência da República a devolução dos trabalhos.
A decisão, no entanto, está enfrentando críticas. Maria Elisa Costa, herdeira do urbanista Lucio Costa, considerado um dos inventores de Brasília, redigiu uma carta aberta em que pede a Kátia Bogéa, atual presidente Iphan – cargo ocupado por Maria Elisa durante 15 anos – , que intervenha para que as obras permaneçam em Brasília.
"O que fez nosso JK? Conseguiu que o Museu de Belas Artes da antiga capital lhe cedesse uma bela coleção de obras, a serem colocadas nos Palácios de Brasília, como a dizer – aqui, Poder & Arte convivem, cotidianamente. Com o tempo, essas obras passaram, de fato, a ‘pertencer’ a Brasília. A ideia de JK criou raiz. Retirá-las seria desmerecer a sensibilidade e a sabedoria de quem foi capaz de construir, em três anos, nossa capital.... Ele não merece!", escreveu Maria Elisa.