O leitor Antonio Felipe Purcino relembra a grande festa que foi o centenário da Independência na cidade de Rio Grande. Ele diz: “Foi um mês inteiro com desfiles, missas, bailes, competições esportivas, uma visita inusitada do México e o lançamento da pedra fundamental do Ginásio Municipal”.
Há cem anos, foi realizada uma festa grandiosa por todo o território nacional, e em Rio Grande não foi diferente. A cidade nessa época possuía 53.607 habitantes. Isso era 88% a mais do que quando Dom Pedro I proclamou a Independência do Brasil: naquele 1822, viviam em Rio Grande apenas 6,5 mil pessoas. No início do século 20, a maior parte da população já vivia na zona urbana e em todo o município estavam estabelecidos 9,1 mil imóveis. No ano do centenário, entraram no porto 436 navios e saíram 430. O comércio, a pecuária e a indústria (que dava seus primeiros passos) eram as principais forças da economia.
Em 1922, havia no ar uma grande animação para comemorar o Centenário. O jornal Rio Grande destacava as celebrações da seguinte maneira: “No dia 7 de Setembro de 1822 a nossa amada pátria como uma nova e grande estrela surgiu no céu americano cintilante e radiante de liberdade”. O tom do discurso não deixa dúvidas de que o patriotismo era forte.
Conforme o educador patrimonial do Centro Municipal de Cultura Rogério Teixeira, o Brasil havia acabado de passar pela Primeira Guerra Mundial (1914-1918).
“O Exército enviou uma equipe médica para atender os feridos na França e a Marinha uniu fileiras com a marinha inglesa na frente de Gibraltar, no Mediterrâneo. O país também ajudou realizando missões de patrulhamento no Oceano Atlântico. Dessa forma, pelo período de conflitos, o sentimento de patriotismo era grande entre os brasileiros”, diz Rogério.
A celebração começou dia 7, ao toque de alvorada à meia-noite, em frente ao Paço Municipal. Segundo os cronistas da época, o Dia da Independência foi saudado com 21 tiros de canhão, foguetes e uma sinfonia de sinos recebidos com palmas e ovações, enquanto as bandas executavam o Hino da Independência.
Após uma madrugada agitada, pela manhã, a cidade continuou movimentada, com a realização da parada militar e o desfile escolar na Rua 24 de Maio, que foi enfeitada com faixas verdes e amarelas. Aproximadamente 1,7 mil estudantes desfilaram levando bandeirinhas verdes e amarelas. No dia seguinte, foi celebrada uma missa campal, seguida do Te Deum, na Igreja Virgem da Conceição. Já na noite do dia 8, teve uma festa veneziana na Praça Tamandaré, que foi toda decorada com luzes e fitas coloridas.
“Em 1922, Rio Grande passava por um intenso processo de urbanização, chegando a triplicar sua população nas primeiras décadas do século 20. Além disso, experimentava uma intensa vida cultural com a proliferação de teatros, clubes, cafeterias e outros espaços gastronômicos. Por isso, a comemoração foi marcada com muitas festas, bailes, apresentações artísticas e até mesmo uma peça de teatro ao ar livre no centro da cidade”, comenta Teixeira.
O dia 9 foi marcado pela “Secção Athletica”, uma série de provas esportivas que movimentaram a cidade, como a “Corrida da Resistência” dos 10 mil metros, cujo trajeto deu a volta na cidade. Houve ainda corridas de 400, 200 e 100 metros. O evento teve outras modalidades e qualquer pessoa podia se inscrever para competir, o que aumentou ainda mais a participação da população. Um jogo de futebol no campo do Sport Club Rio Grande encerrou o dia esportivo. Para encerrar oficialmente as celebrações, foi realizada no dia 10 a cerimônia de lançamento da pedra fundamental do Ginásio Municipal Lemos Júnior.
Ainda em setembro, a cidade recebeu no dia 27 a inusitada visita da Missão Mexicana. Ela era chefiada pelo general M. Perez Trevino, que estava no Brasil representando o México nas festas comemorativas do Centenário, realizadas no Rio de Janeiro – a então capital da República. Em Rio Grande, foi promovida uma grande recepção aos mexicanos, que viajavam nos navios de guerra Coahuila e Nicolas Bravo.