Nesse sábado (16), às 10h, na Martins Livreiro (Rua Riachuelo, número 1.300, no Centro Histórico, em Porto Alegre), com uma palestra, o historiador Nelson Adams Filho, lançará seu 12º e mais recente livro A Independência do Brasil Pelas Províncias de Santa Catarina e São Pedro do Sul (Editora Edigal, 238 páginas, R$55).
Nessa obra, ele aborda de que forma transcorreu a independência nas duas províncias: os documentos; os movimentos contrários à separação; as personagens pró e contra (no caso do RS, os "pés-de-chumbo" portugueses e os saldanhistas); os ritos do evento e a decisiva participação da maçonaria. As comemorações pelas principais vilas das duas províncias naquele sábado, 12 de outubro de 1822.
Até 1831, as comemorações da independência dividiam-se entre o 12 de outubro, aniversário de Dom Pedro I (1798-1834), e o 7 de setembro.
Adams Filho conseguiu localizar, na Biblioteca Pública de Santa Catarina, documentos de 200 anos, que revelam detalhes das ações na província catarinense. As atas dos termos de vereança e aclamação da independência e de Dom Pedro I, futuro Imperador, das Vilas de N. S. do Desterro (Florianópolis), São Francisco do Sul, Laguna e Lages. Nelas, os ritos desses eventos e a nominação dos participantes. No caso do RS, os documentos foram localizados junto aos arquivos públicos e históricos e à maçonaria.
Quanto à participação maçônica, pouco registrada nos livros didáticos e por outros pesquisadores, o autor, também com base em documentação, consegue constatar a existência desse movimento já em 1822, tanto em SC quanto no RS, retroagindo assim aos marcos históricos de 1831 das duas províncias. Já em 1822 — ou até mesmo antes — o sentimento maçônico vicejava pelo Sul, embora sem a formalização de uma loja maçônica.
Nesse ano, em que comemoramos o bicentenário da Independência do Brasil, a pesquisa acrescenta ainda os "fakes" desse episódio, provenientes de uma história defasada no mínimo 150 anos, pois apresenta momentos, atos e atitudes que não correspondem à realidade. Uma narrativa construída dentro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, sobre a presidência de Dom Pedro II, que serviu aos interesses de um determinado período do Brasil, mas que hoje não mais se sustenta.
Por exemplo, o fato de Pedro I ser contrário à separação até agosto de 1822, atitude expressa ao pai, Dom João VI, em 25 das 31 cartas que lhe escreveu, entre abril de 1821 e setembro de 1822. Cartas que se encontram no Arquivo Nacional e Museu Imperial de Petrópolis, que foram pesquisadas por Adams Filho. Forçado pela iminência da separação, o futuro imperador aderiu pouco antes do teatral 7 de Setembro. Dom Pedro não estava preparado para a missão que o pai passou-lhe ao retornar a Portugal. Em duas dessas cartas, pediu a Dom João que o levasse de volta para Portugal pois não aguentava a pressão.
A maçonaria, de viés monárquico, liderada por José Bonifácio, e a republicana, com Joaquim Gonçalves Ledo, pressionava Dom Pedro à separação. Se ele não a fizesse, os maçons republicanos a fariam.
José Bonifácio, por sua vez, também era contrário e só aderiu à causa quando as cortes portuguesas suspenderam-lhe o polpudo salário que recebia, mesmo já morando no Brasil. Em sua passagem relâmpago pela maçonaria, onde foi grão-mestre, Bonifácio defendia uma independência constitucional monárquica, enquanto outros líderes maçons, como Joaquim Gonçalves Ledo, José Clemente Pereira, Cônego Januário, Joaquim Rocha, uma separação republicana.
Para completar esse quadro equivocado em relação a Bonifácio, um homem erudito e sábio — mas violento e perseguidor com quem lhe contrariava interesses (tinha até capangas para os atos de violência) —, sua nominação de "Patriarca da Independência", título-apelido que nunca existiu oficialmente, mas que passou a ter validade pelo Estado do Brasil em 2018 que reconheceu agora sua condição de "Patrono da Independência". Os maçons republicanos, por sua vez, foram "apagados" da história.
A pesquisa de Nelson Adams Filho enquadra-se na corrente historiográfica atual da Nova História, surgida na década de 1970, por meio da qual é preciso contextualizar e entender as ações e os interesses que irão compor a história. Uma história mais objetiva e menos literária, afastada do dogma de que "só grandes homens promovem grandes feitos", em que os "invisíveis" (mulheres, nativos, afrodescendentes e pobres) também produzem história e em que amplia-se a definição do que são as fontes históricas. A Nova História tem nos historiadores franceses Pierre Nora e Jacques Le Goff seu início.