A Casa de Cultura Juarez Teixeira (CCJT), de Caçapava do Sul, inaugura nesse domingo (10) sua primeira exposição temporária, a Tango e Bandoneón, a qual irá mesclar imagens do tango contemporâneo com o resgate da história do bandoneón na cidade. A mostra pretende ser o pontapé inicial de uma pesquisa histórica para resgatar e compreender com profundidade a razão de este instrumento ter sido tão popular no município na primeira metade do século 20, quando chegou a ter em torno de 60 músicos ativos.
O bandoneón é um instrumento de origem alemã — parente do acordeon (a nossa gaita) — que se tornou popular primeiro na Argentina, com o tango, e mais tarde se espalhou por outros países da América do Sul.
— A gente quer entender como este instrumento chegou aqui e a razão de ter sido tão popular, tendo em vista que este, em tese, não era um instrumento tão difundido na região — afirma o historiador da CCJT João Timótheo Esmério Machado.
Para começar a pesquisa, foi feita uma campanha na comunidade para arrecadar fotos de antepassados bandoneonistas.
— Recebemos várias imagens antigas, que comprovam a presença do instrumento na cidade no princípio do século passado — afirma a curadora da mostra, Gisele Teixeira.
Entre os precursores, o historiador e bandoneonista João Henriques Oliveira Marques cita nomes como Xiru (Francisco Teixeira), Cesar Alves (tocava choro inicialmente), Albino da Rosa (Binoquinha), Aparício Konze (que faleceu recentemente), Doly Carlos da Costa (que tocava em Os Posteiros e segue na ativa até hoje, aos 92 anos), Jose de Souza Lima (Zeca), Dionísio Costa e Altamiro Paz.
Mais tarde, Caçapava do Sul realizou três encontros de bandoneonistas, nos anos de 1988, 1989 e 1990, reunindo músicos de todo o Cone Sul. No ano passado, o município participou das filmagens do documentário Bandoneando – o documentário – A busca pelos bandoneonistas negros da Campanha Gaúcha, com direção de Diego Muller. A equipe esteve em Caçapava atrás de vestígios desses músicos.
— A vinda da equipe filmagem à cidade "nos deu um cutuco", uma vontade de ampliar o tema e investigar toda a cena do bandoneón da época, incluindo os músicos brancos — diz Gisele.
Além da mostra de fotos históricas, a CCJT também inaugura nesse dia uma exposição de fotografias de tango contemporâneo. São 18 imagens de oito fotógrafos argentinos e brasileiros que retratam os salões de baile (milongas) da capital argentina, dos mais tradicionais aos mais alternativos, e que ficarão expostas durante todo o mês de abril.
O evento inclui, ainda, um bate-papo sobre o tema com historiadores locais, a exibição de um bandoneón de propriedade do colecionador Cyro Chaves e um show de tango com os músicos de grupo Seresta, Evandro Gomes, João Batista Oliveira Henriques e André Marques Evangelho. No final, bandoneón e gaita se juntam na parceria de João Batista e Bruno Saldanha, num gesto simbólico de união entre os dois países vizinhos, Brasil e Argentina.