Em 1970, o jovem Osvaldo Lopes Boneberg, então com 18 anos, comprava sua primeira gaita. A Todeschini, de 120 baixos, permaneceria com o músico por quase 50 anos, em um número não contabilizado de apresentações. O instrumento foi inclusive responsável pela alcunha adotada em sua carreira musical: Alemãozinho da Cordeona.
A relação entre sanfoneiro e sua “parceira” de bailes só foi interrompida em 2016, quando o equipamento foi furtado durante o Rodeio Internacional de Vacaria, nos Campos de Cima da Serra.
— É muita gente, quando olhei a cordeona já não estava mais — relembra.
Na última Páscoa - cinco anos após o crime -, um vídeo postado nas redes sociais chamou a atenção de um amigo seu. Na gravação, um professor de música de Passo Fundo, no Norte do RS, tocava sanfona - de mesma marca e modelo. Os detalhes na estrutura da gaita reforçaram a desconfiança: pequenos furos no fole, como na que pertencia a Alemãozinho. A tampa, igualmente semelhante. Ele então encaminhou as imagens ao músico, que não teve dúvidas. Era o objeto levado pelos criminosos.
— Acionei a polícia aqui de Guaíba e, em conjunto com a de Passo Fundo, chegaram na gaita. Ele colaborou, disse que comprou em Curitiba e que não fazia ideia ser minha — relembra.
O homem não foi considerado suspeito do furto, e contribuiu na investigação, de acordo com a família. Devolveu o item para as mãos de Boneberg, em Guaíba, na Região Metropolitana, no dia 26 de maio. O vizinho, Nelson Ernani Vívian, 57 anos, jura ter identificado a Todeschini assim que a ouviu novamente, na semana passada.
— É o som da cordeona dele, inconfundível. Há muitos anos a gente ouve o som da gaita - diz o servidor público, na manhã desta terça-feira (1), enquanto um pequeno show era feito aos ouvintes da Rádio Gaúcha.
No período sem a gaita os espetáculos foram realizados com instrumentos emprestados, relembra a esposa do músico, Adriana Deneque, 52 anos.
— Eu acho que senti mais que ele, a falta da gaita. Já o Alemão, é assim, sempre feliz. Claro que agora, com a cordeona de volta, ele está mais ainda — afirma a mulher.
Dupla do pai, a estudante Livia Deneque Boneberg, 16 anos, complementa o que disse a mãe: a casa nunca deixou de ser alegre.
— Sempre que alguém vinha, ele emprestava a gaita. Gosta muito do instrumento, que está com ele desde que começou, mas não consegue dizer não para ninguém — garante.
A adolescente admite ter seu futuro dividido entre a música gaúcha e o sonho de ser médica. Estuda por conta, além das lições do segundo ano do ensino médio no Instituto Estadual de Educação Gomes Jardim, com foco no vestibular. E volta no tempo, até a época pré-pandemia: "Sinto muita falta da semana Farroupilha, das apresentações".
O cantor promete nunca mais perder de vista o objeto que define sua vocação. Guarda com carinho o instrumento na aconchegante residência de madeira, de paredes decoradas com fotos de quando tinha em torno de 30 anos — ele prefere não dizer, mas vai completar 70 no próximo mês. E como contaram os familiares, se mostrou solícito, aceitando emprestar a cordeona para o repórter de GZH — que não entende nada de música. Abre o olho, Alemãozinho.
Contato para shows podem ser feitos no (51) 99503-1675.