O prédio, com quase 130 anos, é o mais antigo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e, também, importante construção histórica de Eldorado do Sul. A Capela de São Pedro, na Estação Experimental Agronômica da UFRGS (Rodovia BR-290, km 146) terá um ano especial. No penúltimo dia de dezembro passado, a portaria assinada pelo secretário nacional de Fomento e Incentivo à Cultura, André Porciuncula, autoriza o restauro da edificação. Os trabalhos ocorrerão por meio do Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac), com recursos captados por meio da Lei Rouanet. A previsão de investimento é de R$ 314 mil, e o prazo das obras é de quatro meses a partir do início da execução.
— É uma excelente notícia no campo cultural e turístico neste começo de 2022 — destaca o pró-reitor de Inovação e Relações Institucionais da UFRGS, Geraldo Pereira Jotz, que esteve em Brasília, tratando pessoalmente do tema.
O processo estava paralisado, e foi retomado na gestão do reitor Carlos Bulhões, com a gerência dos recursos sob responsabilidade da Fundação de Apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Faurgs). O impulso decisivo para a obtenção dos recursos, via Lei de Incentivo, foi por meio da ação da Faurgs. A presidente da Fundação, Ana Rita Facchini, diz que o apoio à UFRGS vai além de projetos de pesquisa e envolve o patrimônio histórico e cultural da universidade.
— A capela tem uma simbologia enorme para a história de Eldorado do Sul e da UFRGS — afirma.
A capela integra o conjunto patrimonial da universidade desde 1960, quando foi adquirida pela instituição. O prédio histórico foi construído em 1893, na então propriedade da família portuguesa Ferreira Porto e representa a memória colonial e a religiosidade, pois, por meio de cerimônias ali realizadas, a tradição foi mantida mesmo após a UFRGS assumir a propriedade.
A área, que corresponde atualmente ao município de Eldorado do Sul, surgiu na segunda metade do século 19, como um ponto de parada obrigatória de tropeiros e para comércio de gado formado por pequenos povoados (sendo um dos principais o de Pedras Brancas, que foi o antigo nome do local).
Segundo a arquiteta e chefe do Setor de Patrimônio Histórico (SPH) da UFRGS, Renata Manara Tonioli, a capela é um templo presente na vida dessa comunidade.
— A paisagem onde o prédio está situado é muito bonita e agradável, rodeada dos grandes campos da fazenda, e o direcionamento ao prédio através de fileiras de palmeiras valoriza a edificação. É um exemplar típico de capela rural, sendo a única construção da fazenda original, que permaneceu — comenta Renata, que coordenará a restauração.
A capela faz parte do cotidiano dos funcionários, estudantes e professores da UFRGS, pois o sino é utilizado para sinalizar o turno, e, também ali, reúnem-se para rezar. Entre as décadas de 1960 e 1970, serviu para cerimônias como missas no Dia de São Pedro, na Páscoa e no Natal. Há registros de que pelo menos três professores da UFRGS tenham realizado o casamento no local, como o do professor da Faculdade de Agronomia Aldo Merotto Junior com a também professora Maria Cália Ibanez de Lemos, em julho de 2001.
O professor de fruticultura Gilmar Arduino Bettio Marodin conta que escreveu a dissertação no alojamento da Estação Experimental (EEA), mas que buscava forças na capela para finalizar o trabalho e manter o vinculo à UFRGS. Filho de agricultor, com intensa ligação à terra e à simplicidade, a decisão de casar lá foi tomada naturalmente.
Outras histórias, curiosas e pitorescas, eram contadas por antigos funcionários que diziam ter visto e ouvido possíveis fantasmas que, segundo eles, rondavam o local, bem como a de possíveis tesouros enterrados na área.
Colaborou Renan Arais