Daniel Neutzling Barbosa, residente na localidade de Galpões, em Camaquã, no sul do RS, vem se dedicando há mais de 10 anos a pesquisar as raízes da parte de sua família originária do antigo reino da Prússia, que desembarcou no Rio Grande do Sul no século 19. Tataraneto de Peter Neutzling (um dos primeiros do clã a se estabelecer no Estado, com o irmão Philipp), Daniel conta com apoio da tia e incentivadora Ester Neutzling Huber para buscar dados em Camaquã e São Lourenço do Sul, além de pesquisar na internet. Conforme Ester, o sobrinho é um pesquisador nato, que nunca desiste de ir atrás das informações, mesmo sem formação acadêmica.
– Uma descendência sem história é uma árvore sem raiz, que perece com a força do vento – justifica ele.
Com essa ideia, Daniel já detectou que, em meados do século 19, a maioria das terras cultiváveis da Prússia encontrava-se ocupada. As famílias tinham muitos integrantes, ao passo que as oportunidades de trabalho eram escassas. Já no Brasil, em contrapartida, havia muitas terras devolutas, que necessitavam de trabalhadores para que fossem cultivadas.
A combinação desses fatores fez com que o renano (termo que designa pessoas nascidas em áreas próximas ao rio Reno) Jacob Rheingantz e o português José Antônio de Oliveira Guimarães, ambos residentes na região sul do Estado, associassem-se com a finalidade de trazer imigrantes do norte da Europa. A ideia era fundar colônias na região onde hoje se situa o município de São Lourenço do Sul. Como administrador da colônia, caberia a Rheingantz recrutar os colonos, enquanto Guimarães teria a tarefa de agilizar os trâmites legais da operação, aproveitando-se de sua boa relação com a classe política.
Neste cenário, em 31 de outubro de 1857, saía do porto de Hamburgo (na época integrado ao território da Prússia) o navio cargueiro holandês Twee Vrienden, com 88 imigrantes. Na lista de embarque, constavam dois irmãos, ambos sapateiros: Peter Neutzling, de 24 anos, solteiro; e Philipp Neutzling, de 36 anos, casado, que veio com a esposa e duas filhas (ambos haviam nascido na cidade de Sponheim).
Em 18 de janeiro de 1858 (há exatos 163 anos, portanto), eles desembarcaram no porto de Rio Grande, sendo transportados pela Lagoa dos Patos até o porto fluvial do Arroio São Lourenço. Dali, foram conduzidos em carroções ou a pé por cerca de 30 quilômetros até a propriedade de Rheingantz, na localidade de Picada Moinhos (hoje denominada Coxilha do Barão, pertencendo ao território de São Lourenço do Sul).
A seguir, Peter se estabeleceu em terras cercadas por imensos vazios (nas proximidades, havia apenas grandes estâncias). Ainda virgens, continham muitas pedras e matas, dificultando a preparação do plantio. Embora a convivência com os brasileiros fosse pacífica, a adaptação não foi fácil. Segundo a pesquisa de Daniel, não bastasse a cultura diferente (idioma, religião, costumes etc.), o modelo de trabalho adotado na colônia se caracterizava pelo elevado grau de dependência em relação ao administrador. Tudo o que os colonos necessitavam para comer e plantar era adquirido junto a Rheingantz, que também comprava toda a colheita. Sem falar nos juros pagos pelas dívidas de viagem e pela utilização das terras.
No Brasil, Peter adotou o nome de Pedro e se casou com Khatarina (o casal teve os filhos Felipe, Frederico, Ernesto e João), vindo a falecer em 1913. Essa história ainda tem muitos episódios para se contar – de Picada Moinhos, a família Neutzling se espalhou por Camaquã, Canguçu, Encruzilhada do Sul, Pelotas, Porto Alegre e quiçá outros municípios gaúchos. Para dar continuidade ao roteiro, Daniel está em busca de novos registros de fatos, memórias, fotos e objetos.
Quem tiver qualquer informação que possa ajudar Daniel a montar esse quebra-cabeças, pode fazer contato por e-mail (danielbarbosa85@gmail.com.) ou por WhatsApp, pelo número (51) 98049.9313.