O médico Paulo Ernani Rezende de Rezende está lançando o livro autobiográfico Do Pinheiro Torto ao Vasto Mundo (Editora Libretos, 316 pág., R$ 38). Radicado em Strasbourg e vivendo na França há cinco décadas, ele completa 80 anos no próximo mês de novembro.
Rezende saiu de Passo Fundo, no norte do Rio Grande do Sul (de uma região chamada Pinheiro Torto, que deu nome à propriedade de seus antepassados), muito jovem, com 19 anos. Em 1960, partiu para Moscou, na Rússia, para cursar Medicina na Universidade da Amizade dos Povos Patrice Lumumba (UAPPL). Ao terminar seu curso de medicina geral, especializou-se na França como médico anestesista reanimador.
Retornou a um Brasil diferente no ano de 1967, no qual reinava o arbítrio de uma ditadura militar. Em determinado momento, sentiu a pressão aumentar em torno de si: chegou a ser preso no Dops de Porto Alegre e, depois, no DOI-Codi, em São Paulo. Antes que a situação piorasse, optou pelo exílio na França, onde, durante toda a sua vida, desenvolveu uma carreira brilhante.
Obteve a cidadania francesa e filiou-se ao Partido Socialista. Mais tarde, tornou-se membro da Comissão de Saúde Nacional e participou ativamente da construção do sistema francês de saúde.
No Brasil, ele foi um dos principais protagonistas na implantação do projeto Samu 192, que tem hoje a maior rede de serviço de atendimento móvel de urgência do mundo, com mais de 190 unidades em todo o país. O nosso Samu foi inspirado no modelo francês de atendimento a casos de urgência.
“Considero que foi uma grande aventura a implantação no Brasil do Samu 192 após o ano de 1995. Muitas vezes, eu me pergunto: como é que um brasileiro (depois também francês, a partir de 1979) que chegou à França como exilado político e terminou conselheiro de diferentes ministros da Saúde, tanto de esquerda quanto de direita, participou dessa jornada magnífica? Até hoje tenho muito orgulho dessa aventura”, escreve Rezende em seu livro. Na obra, ele comenta que “a Política Nacional de Atenção às Urgências foi começada no governo do presidente Fernando Henrique e implantada definitivamente na gestão de Luiz Inácio Lula da Silva”.
O médico afirma, ainda: “Qualquer autobiografia é necessariamente uma representação do passado, uma elaboração entre o que existia na realidade associada a outras fontes de memória, todas sintetizadas para fazer uma lembrança. A partir do momento em que uma história pessoal é socializada, ela se torna um mito, e uma história mítica não é uma mentira. Conta um mundo visto através de uma lupa que amplia o segmento daquela realidade.”