O jornalista Klécio Santos, autor dos livros Sete de Abril, o Teatro do Imperador, Mercado Central e Bibliotheca Pública Pelotense, acaba de concluir mais uma obra nos moldes das anteriores. Dessa vez, o título será Sonhos de Pedra: A História da Construção dos Molhes, uma das Maiores Obras da Engenharia Marítima. A iniciativa tem patrocínio da CMPC Celulose Riograndense e apoio dos Práticos da Barra do Rio Grande. O livro deve ser lançado em dezembro.
O Almanaque Gaúcho antecipa, a seguir, o capítulo Nas Telas do Cinema, sobre o documentário As Obras da Barra e o Porto de Rio Grande, filme dividido em seis partes cujo o tema é essa epopeia que começa com o relatório de Honório Bicalho, em 1883, e só termina em 1915, quando o navio-escola Benjamin Constant cruzou a Barra em direção ao novo porto de Rio Grande.
Em agosto de 1911, o engenheiro Luiz Tavares Alves Pereira, que trabalhava como ajudante do diretor-geral da Compagnie Française du Port de Rio Grande do Sul, chegou no Sul trazendo na bagagem rolos – 1,5 mil metros – de um filme sobre as obras da Barra. Era uma época em que o cinema começava a ser usado como um instrumento de propaganda do governo.
O filme As Obras da Barra e o Porto de Rio Grande era um documentário de seis partes e foi exibido primeiro no Rio, em julho, num evento organizado pela Compagnie Française no antigo cinema Odeon, na Cinelândia. A “empolgante” exibição contou com a presença do presidente Hermes da Fonseca e outras autoridades.
As imagens, provavelmente, foram captadas naquele inverno, durante o começo do funcionamento dos Titans, os gigantes guindastes usados para alçar as pedras dos molhes no mar. Há a notícia da viagem do “artista” contratado para fazer fitas cinematográficas no navio Itajubá.
Luiz Tavares era natural de Bagé e, embora tenha se formado no Rio pela Escola Politécnica, conhecia a região. Já havia feito trabalhos de dragagem, na Lagoa dos Patos – anos depois, transferiu -se para São Paulo, onde foi vice-presidente da Cia. Paulista de Estradas de Ferro e, em 1931, eleito presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo, substituindo Francisco Matarazzo.
No nosso Estado, o filme foi exibido primeiro em Rio Grande e lotou, durante várias noites, o Cinema Parisiense(que funcionava no Teatro Sete de Setembro), contando com sessões também em Pelotas e Porto Alegre. A estreia em Pelotas foi no dia 16 de setembro, no cinema do Clube Caixeiral. A sessão prevista para as 19h tinha uma hora de duração e a fita era a mesma exibida no Rio de Janeiro e em Rio Grande, dividida em seis partes: Obras do Porto de Rio Grande, Barra, Porto, Lagoa dos Patos; Obras do Porto de Rio Grande (Dragagem); Trabalho nas Pedreiras de Monte Bonito; Barra de Pelotas, Boca do Arroio; Instalações do Cocuruto e Funcionamento dos Titans na Barra do Rio Grande. Em Porto Alegre, a estreia foi no dia 28 de setembro, no cinema Variedades, numa sessão oferecida a autoridades e imprensa.
O filme fez grande sucesso na região, sendo exibido várias vezes. Em Pelotas, por exemplo, ficou em cartaz até novembro em outros cinemas como o Polytheama (o novo cinema Ideal), recém incrementado pelo proprietário Antônio F. Gomes. Rivalizava com outra produção local, de Guido Panella, A Festa da Gaúcha, em cartaz no Colyseu.