A Estação Campos de Canella, em Canela, na serra gaúcha, tem mais de um século de história para contar. Não é exagero dizer que o município se tornou o que é hoje a partir do progresso trazido pelas linhas do trem. No início dos anos 1880, a região ainda inóspita e com pouquíssimas casas era conhecida como Campestre Canella. Foi nessa época que João Corrêa Ferreira da Silva chegou ao lugarejo e viu ali a possibilidade de crescimento que a estrada de ferro poderia proporcionar.
Em 1884, o visionário se muda para São Leopoldo e funda a firma João Corrêa e Filhos. Assim, conseguiu a concessão do governo para levar o trem para a região. Oito anos depois, inicia-se a construção da ferrovia e, no ano seguinte, a abertura do trecho que ligava Novo Hamburgo a Taquara, assim como a abertura da estrada que liga Taquara a Canela. Dezesseis anos mais tarde, já em 1919, a estrada férrea chega a Várzea Grande, em Gramado. Os desafios, no entanto, foram muitos.
A obra exigiu grandes recursos financeiros e, além disso, foi preciso enfrentar a topografia acidentada da região. Em 1921, a linha finalmente concluída ligava Canela à Capital por um total de 58 quilômetros de trilhos. Em 1924, surge um novo capítulo. A estação foi inaugurada no povoado de Campestre Canella, no dia 13 de agosto, chamada à época de Ramal Férreo de Taquara e Canella. Dias antes já havia chegado ao local a histórica locomotiva Le Meuse, fabricada na Bélgica em 1909.
Foi com a maria-fumaça que o lugar deu um salto em seu desenvolvimento. Os vagões traziam à cidade as encomendas para abastecer os armazéns da região. Na volta, partiam levando de tudo: suínos, feijão, ovos, cartas e, sobretudo, a madeira das araucárias. Os negócios cresceram e o vilarejo ganhou força como opção de veraneio. Era recomendado pela altitude e por apresentar um clima ameno, considerado bom para a cura da tuberculose, mas também era lembrado pelas belezas naturais e pela comida boa e farta. O turismo floresceu e, hoje, o setor representa mais de 85% do PIB do município.
Em 1963, foi ouvido o último apito da locomotiva e a estrada de ferro foi desativada. Durante mais de cinco décadas o prédio da estação serviu a outros fins ou permaneceu fechado, sujeito às ações do tempo, que também atingiram a locomotiva. No ano de 2017, porém, essa história ganhou novo capítulo, com o projeto de recuperação da estação por meio de concessão pública. A Estação Campos de Canella, complexo de entretenimento e cultura, foi inaugurada em de janeiro de 2019. O charme do início do século passado ganhou novos contornos e resgatou seu brilho.
A locomotiva La Meuse foi restaurada e o imponente prédio, revigorado em suas linhas originais, atualmente, concentra restaurantes, bares, lojas e a primeira rua coberta de Canela O complexo, situado no coração da cidade, ocupa uma área superior a 5 mil metros quadrados, no Largo Benito Urbani. Com a volta do município à bandeira laranja do modelo de distanciamento controlado do Estado, a Estação Campos de Canella reabriu ontem para visitação.
Mais informações no site www.estacaocanella.com.br.