Do leitor Daiçon Maciel da Silva, prefeito municipal de Santo Antônio da Patrulha, recebemos o texto a seguir.
“O Almanaque de ZH, como sempre, traz boas recordações. Neste verão, uma reportagem sobre o caminho para o mar contou a história da freeway e, como não podia ser diferente, resgatou algumas memórias da nossa bela “Estrada Velha”, a RS-030. Com suas verdes paisagens, repleta de curvas acentuadas, ela foi por muito tempo a única estrada entre Porto Alegre, Osório e as praias do nosso Litoral Norte. Disse a reportagem: ‘Para se deslocar para o Litoral Norte, os porto alegrenses tomavam assento em automóveis abarrotados de malas e apetrechos de férias e seguiam na direção da RS-030, hoje conhecida como Estrada Velha — aliás, ainda disponível, agora mais como alternativa a sua irmã mais nova (freeway – BR-290) nos horários de pico’.
Neste percurso pela Estrada Velha, Santo Antônio da Patrulha era parada obrigatória para quem quisesse descansar, tomar um café, degustar o famoso sonho ou simplesmente comprar rapadura, iguarias clássicas dos gaúchos. É fato que a inauguração da freeway, em 1973, deixou uma das quatro cidades mais antigas do Estado bem menos movimentada. Foram tempos amargos de isolamento, pois a nova rodovia encurtava em muito o tempo para chegar às areias do Litoral.
A necessidade de se reinventar foi urgente. A reportagem me fez voltar tempo adentro, aos meandros da minha paixão pela RS-030, rota supermovimentada quando eu ainda era um adolescente. A Estrada Velha também foi, à época, a pista para as corridas de “carreteiras”, veículos preparados para as competições de famosos corredores como Catarino e Júlio Andreatta, José Asmuz, Diogo Ellwanger, Pedro Pereira, Breno Fornari, Aristides Bertuol, Norberto Jung e tantos outros. As carreteiras eram carros de passeios que recebiam uma estrutura reforçada para resistir às exigências das provas, que eram disputadas em estradas difíceis e nos circuitos de rua das cidades do nosso Estado. Na Capital, isso ocorria no chamado Circuito da Cavalhada-Pedra Redonda, em corridas como os 500 quilômetros de Porto Alegre.
Nós, crianças da localidade de Passo do Sabiá, 2° Distrito, localizado a seis quilômetros do centro de Santo Antônio da Patrulha, adorávamos ouvir o ronco dos motores das velozes “baratas” estilizadas que passavam na RS-00, próximo ao lugar em que morávamos. O barulho forte era ouvido de longe e indagávamos: quem estará na frente? No meu caso, a torcida era sempre para os Andreatta, principalmente para Catarino, o mais velho e um grande piloto, considerado um dos maiores do RS, invariavelmente com a sua “barata” nas cores verde e amarela, de número 2, com o galgo branco pintado na porta.
Outra coisa que me chamava atenção era o sistema de controle de velocidade dos veículos que trafegavam pela Estrada Velha à época. Ao passar nos postos de controle da Polícia Rodoviária Estadual, localizados nos extremos dos municípios de Gravataí, Santo Antônio da Patrulha, Osório e outros do Litoral, o motorista recebia um cartão de cartolina no qual era carimbado o horário. Isso servia para identificar a velocidade que ele desenvolveria para chegar ao próximo posto de passagem. Se na chegada estivesse adiantado e fora do horário compatível com a velocidade máxima permitida, o condutor seria multado. Para evitar a multa, os motoristas apressadinhos faziam paradas em restaurantes ou outros locais, para não serem flagrados desrespeitando a lei.
São reminiscências que conto com o maior prazer, lembrando-me de como é bom viver num lugar tão antigo, com sonhos doces como na sua culinária, rico em suas belezas naturais, em sua história e no seu casario açoriano.”