É verdade que, desde 1978, o Mercado de Pulgas já expunha antigos móveis, joias, livros, revistas e discos na avenida José Bonifácio sob a inspiração de charmosas mostras de antiguidades, como a feira de San Telmo, de Buenos Aires. Mas o Brique da Redenção, tal como o conhecemos hoje, apareceu no mapa da cidade no dia 24 de abril de 1982, data de inauguração da Feira de Artesanato do Bom Fim.
A feira foi iniciativa de uma jovem idealista, Berenice Aurora de Medeiros, que havia abandonado a faculdade de psicologia para ganhar a vida com artesanato. No início dos anos 1980, ela percebeu que a Redenção estava recebendo um público cada vez mais numeroso, gente que saía de casa para confraternizar com amigos, tomar chimarrão ou simplesmente curtir a natureza em meio à selva de pedra. Com exceção do Mercado de Pulgas, as únicas atrações do parque eram tímidas apresentações de música, capoeira e teatro de bonecos.
Junto ao companheiro Paulo Alberto Filber — outro sonhador, que largou a carreira de professor de educação física para construir bonecos de madeira para crianças —, Berenice divulgou uma convocação pública aos artesãos em jornais e deu entrevista a Tânia Carvalho, na antiga TV Guaíba.
— Eu tremia sem parar. Ainda bem que a Tânia soube me acalmar — contou ela depois.
Fora isso, convenceu o secretário da Secretaria Municipal da Produção, Indústria e Comércio (Smic) na época, Mano José, a autorizar a feira.
No primeiro dia, apareceram 60 artesãos, que se posicionaram junto ao alambrado do estádio Ramiro Souto, área que pertence à Redenção. Algumas semanas depois, foram obrigados a abandonar o local por ordem da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Smam), pois não era permitido expor em parques ou praças públicas.
— Na época, nem barraca tinha, era só uma mesinha. Juntei as tralhas e andei em linha reta na direção do canteiro da avenida para me fixar no ponto em que estou até hoje — conta Paulo Eduardo Grala, da barraca 81, entre as ruas Santa Terezinha e Vieira de Castro.
A transferência se mostrou vantajosa — no canteiro, os expositores ficaram mais visíveis aos transeuntes, o que incentivou as compras.
— As pessoas paravam os carros para olhar a novidade —relata Grala.
Em 1990, uma lei municipal determinou o fechamento da Rua José Bonifácio aos domingos para veículos e, em 2005, o Brique foi declarado Patrimônio Cultural Imaterial do Estado. Atualmente, reúne 300 expositores, entre artesãos, artistas plásticos, antiquários e barracas de gastronomia.
O recorde de público é de 60 mil pessoas circulando ao longo do dia pelos 800 metros da avenida às margens da Redenção.
— É a sala de estar de Porto Alegre. A gente chega aqui cedinho para receber as pessoas — afirma João Batista da Rocha, da barraca 99.
Berenice, que havia se mudado nos anos 1990 para a praia cearense de Canoa Quebrada (reduto hippie no final do século passado), morreu em 26 de outubro de 2012, de parada cardíaca.
— Ela foi a mãe do Brique. Depois, demos continuidade ao projeto — diz Evilázio Rodrigues Domingos, atual presidente da Associação dos Artesãos do Brique da Redenção.