Segundo o livro Indústria de Ponta - Uma História da Industrialização no Rio Grande do Sul, de Eduardo Bueno e Paula Taitelbaum, o nosso Estado viveu momentos contraditórios durante a Segunda Guerra Mundial. Se por um lado o conflito foi benéfico para a produção da indústria gaúcha, com mais mercado para as fábricas têxteis, de borracha, de armamentos e, especialmente, as metalúrgicas, por outro, o fato de grande parte do empresariado ser de origem alemã e italiana (ou de seus descendentes) acabou tornando esses proprietários, e suas empresas, os principais alvos da ira popular, principalmente depois que o submarino nazista U-507 torpedeou e afundou o navio mercante brasileiro Baapendi, em agosto de 1942.
Os autores da obra lembram, ainda, que a severa enchente de 1941 já tinha provocado muitos danos, pois as fábricas que ficavam próximas às margens do Guaíba tiveram suas plantas industriais e depósitos invadidos pela água. No ano seguinte, foi a parte enfurecida do povo que invadiu e atacou as casas de comércio e às industrias pertencentes a imigrantes ou empresários com nomes estrangeiros.
“Por ser repleta de alemães, Porto Alegre foi o epicentro da fúria popular. O quebra-quebra se iniciou na Rua da Praia, na confeitaria Woltmann e nas Casas Lyra, mas logo chegou as fábricas, como as de Neugebauer e de Renner. A Fundição Berta, de Alberto Bins, que escapara de uma revolta anterior, ocorrida durante a Primeira Guerra (1914–1918), desta vez não foi poupada. A Wallig escapou pois a turba chegou lá na hora em que saíam os funcionários – e eles a detiveram. Em Rio Grande, a fábrica de charutos Poock nunca se recuperou do ataque. A Rottermund, de São Leopoldo, não chegou a ser atingida, mas teve que imprimir, de graça, panfletos anunciando que, a partir de então, era proibido falar em italiano, alemão e japonês”, diz o livro.
Já nosso leitor Sidney Charles Day recorda que alguns alemães tiveram seus rádios sequestrados pela polícia, “para evitar espionagem...” Ele cita como exemplo da situação de guerra: “Minha tia, Hilda Ricgert, brasileira casada com alemão, para veranear em Cidreira, em 1944, teve que obter um salvo conduto da polícia!