Em meados do século 18, a região onde hoje está localizado o Parque Farroupilha, em Porto Alegre, não passava de um imenso banhado. O terreno era baixo e alagadiço, um verdadeiro vale, daí a origem do nome várzea. A formação geológica explica a topografia da cidade: há milhões de anos, sequências de elevações formaram os vales, surgindo, então, um terreno de aluvião em que serpenteava o Arroio Dilúvio. Como era uma área alagada, os agricultores não a ocuparam, utilizando-a somente para o abate de gado. Esse era o único local para esta finalidade, localizando-se ali o matadouro público de onde saíam as carnes diretamente para os açougues da cidade.
Em 1807, as terras foram doadas para a Câmara de Porto Alegre. Os vereadores se apressaram para vender e, consequentemente, lotear o terreno, com o propósito de obter recursos financeiros para a construção da cadeia municipal. No ano de 1826, D. Pedro I, então imperador do Brasil, não permitiu o negócio, argumentando que a área seria destinada às atividades militares. Com a negação da venda, o terreno ficou no domínio público, permanecendo com a antiga função, ou seja, de depósito de gado, o que justificou, durante muitos anos, o nome de Potreiro da Várzea.
Nos anos seguintes, a várzea foi efetivamente destinada aos militares, o que concretizou o desejo do imperador. É possível que houvesse menos trechos alagadiços no qual, durante a maior parte do ano, o banhado não atrapalhasse as atividades. Na segunda metade do século 19, o local recebeu uma imponente construção: o Casarão da Várzea. O ofício para a liberação da obra partiu do presidente da província, Jerônimo Martiniano de Melo, que contou, também, com a autorização do Ministério da Guerra, que previa a construção de um quartel na cidade.
O prédio abrigaria, no futuro, a escola preparatória de cadetes e o conhecido Colégio Militar de Porto Alegre. A pedra fundamental do edifício foi colocada em 20 de abril de 1872. Segundo a obra Porto Alegre, Biografia de Uma Cidade (1940), o local funcionou como Escola Militar da Província do Rio Grande do Sul (1883), 1º Regimento de Artilharia e 6º Regimento de Cavalaria (1893), 25º Batalhão de Infantaria (1903), Escola de Guerra e de Aplicação (1905), Colégio Militar (1912) e Escola Preparatória de Cadetes (1932).
Não cabe aqui uma descrição aprofundada do prédio, bem como de sua construção. Para isso, existe uma conceituada bibliografia. A questão é que o casarão, primeiro recorte na paisagem, definiu um novo alinhamento dentro da grande várzea. Com o passar dos anos e a consequente modernização da cidade, surgiram novos prédios, ruas e praças, preenchendo a antiga região e reduzindo o primitivo potreiro. Porém, o imponente casarão, com sua forte e bela arquitetura, continuou destacando-se no cenário da várzea, marcando de forma indelével a cidade e o bairro, fato que ainda permanece.
Colaboração de Janete da Rocha Machado, professora, mestre e doutoranda em História. Fonte: Acervo Benno Mentz – Delfos/PUCRS