Em 2016, em Lisboa, visitei a exposição Nós, os de Orpheu, na Casa Fernando Pessoa. No mural de entrada, estavam os colaboradores da revista que levava esse título. Na mostra, em destaque, lá estava ele, Eduardo Guimaraens (1892-1928), o Brasileiro Esquecido, em fotografias, poesia, dados sobre sua vida e obra. A revista brasileira Fon-Fon! e seus colaboradores também estavam lá.
Nunca imaginei encontrá-lo na Casa Fernando Pessoa. A história descrita nas paredes dizia que, em 1913, Luís de Montalvor, que integrava a equipe da Orpheu, veio ao Rio de Janeiro, conheceu a revista Fon-Fon! e conviveu com seus colaboradores, dentre os quais estava Eduardo Guimaraens. Em 1915, Luís de Montalvor escreve a Ronald de Carvalho pedindo que lhe envie poesias de poetas brasileiros. Ronald responde: “Escreverei ao Eduardo para satisfazer o que me pedes”. Esta correspondência deu origem à publicação de três poemas de Eduardo em Orpheu 2. São eles: Sobre o Cysne de Stéphane Mallarmé, Folhas Mortas e Sob os teus Olhos sem Lágrimas.
Falecido em 1928, aos 36 anos, Eduardo Guimaraens deixou extensa obra inédita, que engloba poesias, traduções, contos, teatro e crônicas. Pretendemos, aos poucos, publicá-la. O acervo de Eduardo chegou às nossas mãos (netos e netas) graças ao cuidado de minha avó Etelvina, de meus pais, Dante e Nair, e de meus tios Carlos e Vera.
Eduardo na exposição do Santander
Em face de sua participação na revista Orpheu, Eduardo integra a exposição Fernando Pessoa: A minha Arte é Ser Eu, com curadoria de Ceres Storchi, no Santander Cultural (Praça da Alfândega, Centro Histórico, na Capital), até 30 de dezembro. Seu retrato, pintado por Helios Seelinger em 1915 e reproduzido na exposição portuguesa, e algumas publicações da sua poesia estão lá expostos: a segunda edição da Divina Quimera (1944), a tradução de Canto Quinto (1920, doado ao acervo por Luis Carlos Felizardo), primeira tradução brasileira da Divina Comédia, de Dante, Dispersos (2002) e Poemas (2018).
Poemas, de 1923: publicação bilíngue em 2018
Poemas, o livro de poesias inéditas, escritas em francês por Eduardo (que também desenhou a capa e a contracapa) no início da década de 1920, acaba da sair pela Editora Libretos (90 páginas, 12cm x 16cm, R$ 30 – ou R$ 24 até o fim da Feira do Livro, no domingo).
Os poemas foram traduzidos por Alcy Cheuiche e Lívia Petry Jahn. O belo desenho gráfico de Clô Barcelos reproduz páginas manuscritas pelo poeta e é apresentado como se fosse uma edição antiga, marcada pela passagem do tempo. Com a publicação de Poemas, a família Guimaraens começa a devolver ao avô Eduardo o que é dele de direito: a lembrança de sua existência e o reconhecimento da sua obra.